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A política de fortalecimento e disseminação da metodologia das Associações de Proteção e Assistência aos Condenados (Apacs) mereceu especial atenção da atual gestão. O método tem sido apoiado pelo TJMG desde 2001, com a criação do Projeto Novos Rumos na Execução Penal. A iniciativa se empenha no enfrentamento dos dilemas históricos do sistema prisional, sempre tendo como norte a humanização com vistas à ressocialização das pessoas em cumprimento de pena privativa de liberdade.

No período, um montante de mais de R$ 3,3 milhões oriundos de penas pecuniárias foi investido na construção, ampliação e estruturação de Centros de Reintegração Social (CRS). Em algumas comarcas, como a de Conceição das Alagoas, a Apac entrou em funcionamento. Em outras, como Coromandel e Sete Lagoas, as obras encontravam-se em andamento no segundo semestre de 2022.

Do início da gestão a março de 2022, foram inaugurados cinco CRSs, que proporcionaram a criação de aproximadamente 456 novas vagas. As novas unidades foram as seguintes: a Apac de Itabira, inaugurada em 16 de outubro 2020, com capacidade de 96 vagas; a Apac de Ituiutaba, cuja inauguração se deu no dia 29 do mesmo mês, ofertando 90 vagas; a Apac de Visconde do Rio Branco, inaugurada em 27 de novembro do mesmo ano, e capacidade de 96 vagas; a Apac de Conceição das Alagoas, com inauguração em 13 de maio de 2021, para oferecer 84 vagas; e a Apac de Nepomuceno, inaugurada em 20 de agosto de 2021, capaz de receber 90 novos reeducandos.
 

"Neste momento de encerramento de gestão, é preciso destacar o substancial apoio que a Iniciativa para Consolidação e Ampliação da Política de Apacs do Programa Novos Rumos recebeu durante este período de exercício. No biênio, o segmento contou com o respaldo do presidente Gilson Soares Lemes, o que permitiu verdadeira expansão da metodologia. Convém salientar que, nestes dois anos, inauguraram-se cinco novos Centros de Reintegração Social (CRS), os quais permitiram a ampliação do sistema em aproximadamente 456 vagas, anotando-se ainda a realização de investimentos para melhoria e construção de, ao menos, outros três Centros de Reintegração Social. O Projeto Caminhos e Contos, em parceria com a Escola Judicial Desembargador Edésio Fernandes (Ejef) e o Programa Novos Rumos, desenvolveu um incrível trabalho, que propiciou a recuperandos o incentivo à leitura e a busca de um futuro melhor, por meio dos estudos e da literatura. Também se realizaram cursos com o objetivo de aperfeiçoar e capacitar o corpo profissional das Apacs, houve o acompanhamento constante dos índices de ocupação das unidades, além da produção de trabalhos de pesquisa, sem perder de vista os projetos sociais executados, característica intrínseca ao Programa Novos Rumos. Vale ressaltar que todas essas iniciativas sempre tiveram por escopo a afirmação do método apaquiano, que completará seu Jubileu em 2022, motivo de orgulho para todos nós que, de alguma forma, buscamos contribuir pela busca da ressocialização dos condenados através da já vitoriosa metodologia. Por fim, congratulando o presidente, desembargador Gilson Soares Lemes, pelo seu mandato, deixo registrados os meus sinceros agradecimentos a ele e à sua equipe por todo o apoio do Tribunal de Justiça de Minas Gerais à Iniciativa para Consolidação e Ampliação da Política de Apacs do Programa Novos Rumos."

Desembargador Armando dos Anjos
Coordenador-geral do Programa Novos Rumos

 
APAC

Presidente Gilson Lemes inaugura nova unidade de regime fechado na Apac de Ituiutaba (outubro de 2020) (Crédito: Robert Leal/TJMG)

Diante da necessidade de aproveitar ao máximo a proposta inovadora do método Apac e de manter plena a capacidade de ocupação dos CRSs, em parceria com a administração prisional, foi elaborada uma lista de presos com os respectivos atestados carcerários, para auxiliar os juízes da execução penal. Identificadas vagas ociosas, é possível avaliar rapidamente a possibilidade de ocupação e transferência de pessoas do sistema prisional comum para as Apacs, sempre que os requisitos sejam cumpridos, conforme estabelecido na Portaria Conjunta 1.182/2021. Assim, a ocupação das unidades passou a ser de aproximadamente 90% da capacidade total de vagas. A norma subsidia os magistrados quanto ao perfil criminológico do candidato a uma vaga na unidade. A medida trouxe mais segurança ao Judiciário para o desenvolvimento da metodologia.

Um estudo sobre a reincidência das pessoas que deixaram os Centros de Ressocialização das Apacs, em 2014 e 2015, foi conduzido pela equipe do Programa Novos Rumos em parceria com a Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados (FBAC) e com a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp/MG). O material foi organizado pelo coordenador-geral da Iniciativa para Consolidação e Ampliação da Política de Apacs em Minas Gerais, desembargador Antônio Armando dos Anjos, e pelo seu coordenador executivo, o juiz Luiz Carlos Rezende e Santos.

O trabalho analisou o perfil de mais de 1.200 sentenciados, a partir de critérios metodológicos definidos, comparando seus percentuais de reincidência com os do sistema prisional tradicional. Também foram abordadas as dificuldades existentes na aplicação do método apaquiano. A análise dos dados coletados demonstrou que o índice médio de reincidência criminal foi de 12% em 2014 e de 14% em 2015.

Na esfera da troca de experiência, divulgação do projeto e formação de público, nos dias 21 e 22 de outubro de 2021 realizou-se o “Encontro Anual de Magistrados de Execução Penal que Aplicam o Método Apac em Minas Gerais”, em atuação conjunta com a Escola Judicial Desembargador Edésio Fernandes (Ejef). O evento reuniu 43 magistrados para debater sobre os atos normativos referentes ao funcionamento das Apacs, o aprimoramento da política para manutenção da ocupação mínima das unidades sem prejuízo da segurança, o cuidado quanto ao trabalho externo do recuperando e questões relativas a sexualidade e religiosidade.

No período, o coordenador executivo da Iniciativa para Consolidação e Ampliação da Política de Apacs em Minas Gerais, juiz Luiz Carlos Rezende e Santos, e o sociólogo Luís Flávio Sapori produziram o livro Tratamento Penitenciário: um estudo sobre tortura, maus-tratos e assistência às pessoas privadas de liberdade. A obra é fruto da parceria do TJMG, por meio do Programa Novos Rumos e da Ejef, com a Associação dos Voluntários para o Serviço Internacional Brasil (AVSI Brasil) e com a União Europeia.

Houve também um esforço permanente de capacitação das equipes, elevando o nível de profissionalismo dos gestores, colaboradores e recuperandos e aprimorando a aplicação da metodologia apaquiana, a fim de melhorar e qualificar os índices de ressocialização. Propostas foram levadas adiante em parceria com a FBAC e a Ejef, numa média de uma a cada três meses: curso de capacitação para os encarregados administrativos e de segurança das Apacs, na Apac de Santa Luzia; curso de higienização e digitalização e processos históricos pertencentes ao arquivo do TJMG, na Apac Feminina BH; curso de capacitação de supervisores de oficinas das Apacs; o Encontro Anual de Magistrados de Execução Penal que aplicam o método Apac em Minas Gerais; curso de capacitação para os facilitadores do Programa Caminhos do Cuidado, na Apac de Santa Luzia; e Encontro de Presidentes e Gerentes das Apacs, na Apac de Itaúna.

Também é destaque o projeto “Caminhos e Contos: a ressocialização pela palavra”, realização conjunta do Novos Rumos e da Ejef lançada em 24 de novembro de 2020 e cujo público-alvo inicial foram as reeducandas da Apac Feminina de Belo Horizonte. Por meio dessa ação, 40 recuperandas receberam formação como contadoras de histórias, participando de uma série de 12 oficinas. A formatura do grupo foi realizada em maio de 2021. Em 11 de agosto de 2021, houve a primeira expansão da iniciativa para o interior, beneficiando recuperandos da Apac de Santa Luzia.

O biênio foi encerrado com o 9º Congresso das Apacs, com o tema “Ninguém é Irrecuperável – Jubileu/50 anos”, realizado pelo Programa Novos Rumos, pela Ejef e pela FBAC. A programação se estendeu de 22 a 25 de junho de 2022, em Belo Horizonte.

Com foco no fortalecimento das Apacs, o Novos Rumos também se envolveu em projetos sociais em parceria com o Núcleo de Voluntariado do TJMG. Em março de 2021, foram doadas 6 mil máscaras ao Hospital Sofia Feldman, confeccionadas pelos recuperandos da Apac de Passos. O Programa Novos Rumos repassou ainda ao Núcleo de Voluntariado uma tonelada de alimentos liofilizados, adquiridos em parceria com o Instituto Ceasaminas, e mais 8 mil máscaras confeccionadas pelos reeducandos das Apacs de Patrocínio e Passos, destinadas à população vulnerável de Belo Horizonte, em março de 2020.

A produção de máscaras, em outras 23 unidades de todo o Estado, atingiu 2 milhões de itens de proteção e beneficiou hospitais e asilos. O projeto, denominado “Humanizando a Pena e Protegendo Vidas”, produzido em parceria pelo Novos Rumos, pela FBAC e pela AVSI Brasil, recebeu distinção do jornal Folha de S. Paulo e da Fundação Schwab, conferindo aos organizadores de cada instituição o prêmio de Empreendedor Social 2020.

Em um ato inovador, o TJMG assinou, em conjunto com a Procuradoria-Geral de Justiça, a Secretaria de Estado de Justiça e a Defensoria Pública Geral, a Portaria 26/2020, que dispõe sobre a aplicação de elementos da metodologia apaquiana no sistema socioeducativo de Minas Gerais. Fruto da união de esforços, a parceria viabilizou a implantação da primeira Apac Juvenil do País, localizada em Frutal, no Triângulo Mineiro, em 13 de maio de 2021. E, em 27 de agosto de 2021, foi lançada a pedra fundamental da Apac Juvenil de Pouso Alegre.

Por meio de outra importante parceria, desta vez envolvendo a Cemig e a FBAC, e com o apoio do TJMG, foram inauguradas usinas fotovoltaicas nas Apacs de Itaúna, São João del-Rei, Pouso Alegre e Nova Lima, em outubro de 2020. Os empreendimentos receberam investimentos da ordem de R$ 7 milhões. O projeto tem como foco a sustentabilidade e visa gerar 90% da energia consumida nessas unidades, permitindo economia de até 75% no custo desse insumo.

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Recuperando da Apac de Visconde do Rio Branco planta muda à beira de um açude, na própria unidade (Crédito: Cecília Pederzoli/TJMG)