“Paisagem Ambulante 381”, do artista Daniel Moreira, apresenta o registro fotográfico, feito ao longo de cinco anos, de cenas descobertas por ele às margens da Rodovia BR-381, entre Belo Horizonte e Ipatinga, trecho que percorria rotineiramente.
Em exposição na Galeria de Arte do Fórum Lafayette, de 7 de fevereiro a 10 de março, as fotografias nos apresentam estruturas metálicas e de madeira, placas, caçambas, trailers; abandonados, deixados ao léu (às margens), depois de perder a serventia inicial. Todas essas cenas, juntamente com “seus habitantes” – temporários ou não –, foram descobertas e enquadradas por ele em suas idas e vindas, dando origem à série.
“Comecei a reparar nessas construções, nessas estruturas. O mesmo caminho, em que eu ia e voltava... como as estruturas mudavam. Sempre que passava ali tinha algo diferente.” Ele passou a observar que as cenas se reconfiguravam, se remodelavam. “Algo tinha sido recolhido, ou algo novo era deixado, ou ganhava uma nova função.” Durante os registros, as viagens de Daniel chegavam a durar dez horas.
À medida que descobria essas cenas e suas reconfigurações, Daniel entrava em contato com os seres que habitavam esses espaços. Com isso, os andarilhos, principalmente, mas também animais, passaram a ser registrados pelo artista. “As pessoas que fotografei não aguentavam mais o mundo da cidade e queriam viver sozinhas”, conta.
Os retratos revelam pessoas “encaixadas” nas realidades recortadas pelo artista. Os fotografados se misturam com a própria paisagem, com uma estética diferente, característica do espaço habitado, e com a vaidade, “própria da natureza humana”, revelada no momento do clique.
Todas as fotos foram feitas em dias nublados e em preto e branco. Segundo o artista, essas características trazem uma “coerência de luz” para os trabalhos e os deixam atemporais, fazendo com que aquele enquadramento possa ser interpretado como uma realidade de qualquer lugar a qualquer tempo. “Mundo encantado e perdido no tempo”, observou o artista.
As imagens apresentadas em “Paisagem Ambulante 381” nos causam certa melancolia, característica das viagens pelas estradas. “O trabalho reflete também a solidão das viagens que fazia com frequência”, explica o artista.
“Fala sobre uma melancolia do ser humano que está ali, inserido num ambiente por escolha dele, em locais construídos e deixados e reaproveitados pelo próprio homem perdido.” Faz também uma crítica ao consumo e ao descarte, completa. O resultado são esses “seres”, humanos ou não, mas que assumem essa postura – a de um ser – através da lente do fotógrafo.
O artista
Daniel Moreira é natural de Belo Horizonte. Formado em comunicação social, durante todo o curso foi frequentador assíduo do laboratório de fotografia da faculdade. Ainda na escola surgiram os primeiros trabalhos fotográficos. Em 2004, com um amigo, montou um estúdio no qual faziam fotografias publicitárias. Apesar dos muitos trabalhos, logo surgiu a vontade de produzir uma obra autoral.
Em 2010, Daniel Moreira inicia seus trabalhos artísticos, tendo a fotografia como suporte. “A Cara da Saudade”, sua primeira série mais conhecida, é composta por fotos de pessoas idosas, com lapsos de memória, em que ele registrou a face dos retratados logo após levá-los a relembrar uma situação antiga que tinha deixado saudade.
Entre premiações, seleções e exposições, destacam-se: menção honrosa no 35º Salão Arte Pará, selecionado pelo edital Sesi-SP de Artes Visuais (2016), comtemplado com o XIV Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia (2014), selecionado para o 5º Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia (2014) e finalista do Prêmio de Arte Conrado Wessel em 2013. Realizou exposições individuais, além de participar de diversas coletivas por todo o Brasil.
Serviço
Espaço Cultural Fórum Lafayette – Galeria de Arte do Fórum Lafayette
Av. Augusto de Lima, 1.549, Barro Preto, BH
Visitação de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h
Assessoria de Comunicação Institucional – Ascom
TJMG – Unidade Fórum Lafayette
(31) 3330-2123
