
O desembargador José Washington Ferreira da Silva, da 1ª Câmara Cível (1ª Caciv) do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, participou, nesta terça-feira (12/7), da última sessão de julgamento antes de se aposentar, já que está prestes a completar 75 anos de idade e 32 anos de atuação. Ele recebeu diversas homenagens na sessão em que estiveram presentes magistrados, assessores, servidores, parentes e amigos, advogados e profissionais do Direito. Ele estava acompanhado da esposa Andreia, dos filhos Marcelo e Juliana, da nora Fernanda e dos netos Pedro Henrique, Rafael e Gabriela.
O presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, desembargador José Arthur Filho, destacou que o desembargador Washington Ferreira “abraçou o ofício de distribuir Justiça, contribuindo, dia após dia, para pacificar conflitos e levar paz às comunidades que tiveram o privilégio de tê-lo como juiz”.
Acrescentou ainda que “é chegada a hora de fechar um ciclo para dar início a outro”. Expressou votos de êxito nos próximos passos do magistrado e sua gratidão, em nome do Poder Judiciário mineiro, pela dedicação à Justiça de Minas.
“Boa parte do ser humano que o senhor é forjou-se nesse exercício profissional que certamente o afastou do convívio precioso com familiares e amigos e de horas de descanso e diletantismo. Agora terá oportunidade para estar mais próximo dos seus e para se dedicar a atividades para as quais sempre faltou tempo. Contudo, estou certo de que o ideal da paz social jamais o abandonará”, disse.

O presidente declarou que o desembargador Washington Ferreira deixa a toga apenas simbolicamente, pois será sempre um sábio e justo juiz. “A vida é feita de chegadas e de partidas. Estamos sempre em algum ponto da estação, em constante travessia. São apenas começos ou recomeços”, concluiu.
Emoção
O desembargador Washington Ferreira agradeceu a todos, referindo-se ao TJMG como um segundo lar e fazendo menção ao escrivão Rafael Caio Soares e o escrevente Felipe Moraes de Souza Lima e os assessores Giovanna, Breno, Meire, Keren, Ana Paula e Diego, bem como ao motorista William. Citando Mario Quintana, no poema “Seiscentos e Sessenta e Seis”, ele disse que “a vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa” e que, se tivesse outra oportunidade, seguiria sempre em frente “jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas”.
“Esse poema reflete de forma lírica sobre a condição humana e a passagem inevitável do tempo. Na verdade, a vida é um dever e uma missão a cumprir, e nossa existência é uma tarefa que vamos adiando ao longo do tempo. Aos 75 anos, não posso mais adiar, ao menos profissionalmente. As despedidas devem ser breves, mas são necessárias para nos encontrarmos outra vez. Para mim chegar até aqui foi uma vitória sonhada e conquistada passo a passo. É um sonho intangível para um menino nascido na distante e pequena Aimorés”, disse.

“Depois de muitas chegadas e partidas, passados 32 anos, é hora de virar essa página da minha vida. Há mais de 11 anos, fui promovido ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais, com assento na 7ª Câmara Cível, lá desfrutando da amizade de todos os seus membros, desembargadores Belizário de Lacerda, Wilson Benevides, Oliveira Firmo e Alice Birchal. Posteriormente fui removido para a 1ª Câmara Cível e vocês não podem imaginar a alegria que foi partilhar o convívio com colegas como o ex-presidente do TJMG, desembargador Geraldo Augusto, exemplo de bom senso e fidalguia e cordialidade; o ex-presidente desta corte, desembargador Bitencourt Marcondes; o desembargador Alberto Villas Boas, hoje 1º vice-presidente deste Tribunal, magistrado desprovido de vaidade, que atendeu ao chamamento de sua consciência para servir o jurisdicionado e engrandecer a instituição; o desembargador Armando Freire, meu contemporâneo na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) nos anos 1970, magistrados dos mais ponderados que já vi e cujo equilíbrio me impressionou. Mais recentemente, retomei o contato com o desembargador Márcio Idalmo, que conheci no juizado especial, no fim da década de 1990, que se destacou por sua capacidade de trabalho e operosidade. Conviver com detentores de tão grande virtude e saber jurídico muito me enriqueceu, traduzindo-se num aprendizado significativo para minha carreira e como pessoa”, frisou.
Essa experiência, segundo o homenageado, ficará indelevelmente marcada na memória. A todos os colegas ele expressou a ardorosa convicção de que eles honram e honrarão o Tribunal, pois são dignos do cargo e estão na instituição por vocação e mérito próprio. “Convivemos de forma harmônica, não no sentido de entendimentos unânimes, pois a divergência é inerente ao colegiado, mas harmonia no puro respeitar e agregar a vida do outro sem deixar de ser o que se é, pois nenhuma relação de amizade que obriga a ser diferente e ir contra a sua essência vale a pena. Aqui nos respeitamos sempre. Quero registrar que para mim o Direito é um instrumento para melhorar as pessoas e o mundo em que elas vivem, mesmo com as limitações que a ele são impostas. Na prática, tem a missão de tolerância e compreensão. Abracei a magistratura seduzido pela difícil missão de julgar, porque a lei não é o que ela diz, mas o que o magistrado diz que ela é; a norma não é apenas um texto legislativo, mas a maneira como o ser humano a interpreta. Daí decorre nossa imensa responsabilidade e cuidado ao interpretá-la, pois uma interpretação em desconformidade com o Direito, contraditória ou fragmentada causará graves lesões ao jurisdicionado, e nada contribuirá para o país e acarretará desprestígio ao Poder Judiciário”, disse.

Ele homenageou os pais, já falecidos, a esposa, filhos e netos, que lhe deram força, coragem e estímulos para perseverar e transpor dificuldades e dúvidas, e concluiu seu pronunciamento desejando a todos os dirigentes do TJMG para o biênio 2022-2024 uma administração produtiva e exitosa, e acrescentando estar certo de que assim será, pelos vários atributos e competências que, isoladamente e em conjunto, como julgadores e administradores, apresentam. “Sei que eles engrandecerão e dignificarão o TJMG”, declarou.
Reconhecimento
O 1º vice-presidente, desembargador Alberto Villas Boas, afirmou que a data era propícia para relembrar a trajetória do desembargador Washington Ferreira. “É inegável que é um magistrado exemplar, como todos aqui podem testemunhar. Reuniu em si todos os predicados morais e jurídicos para ser quem é no Poder Judiciário de Minas Gerais. Nesse particular, lembro uma passagem do evangelista Lucas, para quem toda árvore é reconhecida pelos seus frutos. Ninguém colhe figos de espinheiros, nem uvas de ervas daninhas. O homem bom tira coisas boas do bom tesouro que está em seu coração. Você é este homem bom, Washington, que tirou essas coisas boas durante todo o período em que atuou, quer como advogado, quer como integrante da magistratura”, declarou.
Ele citou atributos como o caráter afável e discreto do homenageado. “Eles construíram a imagem de um profissional do Direito devotado aos processos e lides judiciais, cujo conhecimento sempre proporcionou a elaboração de sentenças e acórdãos pautados na observância estrita da lei, sem prejuízo do tempero da empatia e da sensibilidade que precisa existir diante do conflito alheio. Sua ausência a partir da próxima semana deseja se fazer presente, mas na nossa memória você estará sempre com os colegas da 1ª Câmara Cível, que irá buscar nos ensinamentos em seus votos o caminho para decidir de forma justa e respeitosa ao Direito. Sua aposentadoria como juiz não impede que possa abrir uma nova perspectiva de vida junto às pessoas que mais ama e com que convive. Receba de todos nós o respeito e o agradecimento”, afirmou.

O 2º vice-presidente e superintendente da Escola Judicial Desembargador Edésio Fernandes (Ejef), desembargador Renato Dresch, disse que conheceu o desembargador Washington em 2002, quando foi promovido para a capital. "Passamos muitas horas agradáveis, de troca de ideias e de informações e atesto o valor de sua conduta, uniforme em toda a sua carreira. Chegamos agora a uma nova quadra da vida, a terceira após o nascimento e a formação: é a fase de cultivar os movimentos da divindade que temos em nós. O senhor se preparou por toda a vida para ter essa tranquilidade. Estou aqui apenas para prestar essa homenagem especial. Um abraço fraterno e amigo. Estaremos sempre juntos sempre que precisar. Parabéns por essa vida digna e honrada, obrigado e siga em frente”, disse.
O corregedor-geral de justiça, desembargador Luiz Carlos Corrêa Junior, ponderou sobre a dualidade do momento, que, reunindo as relações sociais e a própria vida, é marcado pela angústia e pela satisfação. “Se, por um lado, existe a tristeza, porque perderemos um notável magistrado e o convívio amistoso com um ótimo colega, também é um momento de alegria, pelo fato de podermos, de público, nesta sessão solene, homenagear um dos grandes magistrados do Estado de Minas Gerais. Ao deixar a magistratura, o desembargador José Washington ingressa na história do Judiciário. Lembraremos sempre dele como um valoroso colega e magistrado, e uma pessoa leve, agradável, de excelente trato”, destacou.
O corregedor rememorou que, em 2008, com outros oito juízes, atuou nas varas da fazenda com o homenageado. “Por muitos anos, tivemos uma convivência muito harmoniosa. Além da faina diária das atividades jurisdicionais, tínhamos um momento de relaxamento no qual se sobressaía o eminente desembargador Washington Ferreira. Aprendemos com ele, que é um exemplo para todos nós. Receba os cumprimentos do Poder Judiciário de Minas Gerais e o agradecimento de seus colegas e do jurisdicionado deste Estado”, finalizou.
Ex-presidente do TJMG e ex-colega de câmara do desembargador homenageado, o desembargador Pedro Bitencourt Marcondes frisou sua admiração genuína por ele. “Ingressamos no mesmo concurso, trilhamos uma carreira que nós amamos, e José Washington se entregou a ela, quem o acompanhou sabe como ele desenvolveu suas habilidades e mostrou-se um excelente profissional. É um magistrado com ‘M’ maiúsculo. Dedicado, conciliador, dificilmente se encontrará uma pessoa com maior propensão à magistratura”, pontuou.
Segundo o desembargador Bitencourt Marcondes, a renovação é inerente a toda carreira e salutar, mas exibe um lado negativo quando atinge pessoas que teriam condição de exercer a judicatura com tino e proveito para o cidadão por mais tempo. “Ele ainda poderia prestar um grande serviço, mas, em função da idade, precisa sair, como ocorrerá a todos nós. Mas saiba que aqui está um admirador de sua postura de vida, de seu sucesso profissional e familiar. Você foi meu vogal, na 1ª Câmara, e sempre soube valorizar seus votos e posicionamentos. Seja feliz nessa nova etapa”, afirmou.
Companheirismo
Recordando os encontros ocorridos na residência do homenageado, plenos de aconchego e amizade, o desembargador Geraldo Augusto, presidente da 1ª Câmara Cível, afirmou que se tratava de “uma reunião alegre e de confraternização, como é bem típico da riquíssima personalidade do caríssimo irmão e respeitado colega, porque queremos registrar e celebrar aqui a sua vida, belíssima e exemplar”.
Ao manifestar profundo reconhecimento ao desembargador Washington Ferreira, o desembargador Geraldo Augusto ressaltou nele a afabilidade, a generosidade e sensibilidade, bem como as palavras de conselho, os gestos de acolhimento, o sorriso de força e confiança, a dignidade diante das adversidades, a criatividade na busca de solução para os litígios e para a burocracia. Segundo o ex-vice-presidente do TJMG, tudo o que o colega fez “não passou nem passará”, não somente na lembrança, mas de forma objetiva nos reflexos e consequências de seus atos funcionais e das decisões que proferiu.

“Qualidades de quem bem sabe viver e conviver, amando a vida e ao próximo, de quem sempre honrou e dignificou a toga, conquistando o respeito e a admiração de seus pares e dos jurisdicionados. Preocupava-se com o mais justo em cada caso. As qualidades do amigo José Washington sempre sustentaram os predicados do desembargador Washington Ferreira. A aposentadoria é apenas um ato formal de desligamento da atividade direta. Mas a atividade indireta continuará no serviço de prestar justiça com seu exemplo e em novos aspectos para exercer seu elevado talento”, disse o desembargador Geraldo Augusto.
Referindo-se ao “exemplo raro de dinamismo, dedicação empreendedora e de compromisso em tudo o que faz”, o presidente da 1ª Caciv salientou que o colega promoveu um mutirão, antes de deixar a Casa, e zerou o acervo sob sua responsabilidade.
Identidade de valores
Também colega de câmara, o desembargador Armando Freire lamentou que as despedidas estejam sendo frequentes ultimamente no TJMG. “Vamos nos desfalcando de amigos cujas presenças se harmonizaram com nosso cotidiano e se acomodaram em nossos corações”, disse. O magistrado rememorou a convivência diária que datava da época do Fórum Lafayette e que os integrou numa família. “Identificados em tantas coisas, sorvidos por tantas preocupações comuns, realizações e contentamentos, há um pedaço de cada um em todos. Assim vamos nessa labuta incessante, que esgota, mas faz renascer”, afirmou.
O magistrado declarou não se tratar de uma simples despedida. “É sobretudo a exaltação de um ciclo vitorioso, envolto na paz reconfortante do dever cumprido com honestidade de propósitos e o devotamento de um autêntico sacerdócio, a competência e a autoridade moral e intelectual. Somos gratos, caro amigo, por sua companhia e presença, sereno, discreto, mas vigoroso e firme. Sua maneira de ser cordial e elegante, sua fala suave, pausada, medindo as palavras, dosando sua sonoridade e seu exato sentido. Vamos sentir muito o distanciamento físico, mas sua lembrança não se apartará de nós. É um orgulho para todos, um legado e uma história que inspirará os jovens magistrados”, finalizou.
Para o desembargador Márcio Idalmo Santos Miranda, igualmente companheiro de câmara, a despeito de os pronunciamentos se repetirem nos elogios e na gratidão, ele sentia-se compelido a juntar sua nota pessoal aos depoimentos. “Hoje ele cumpre uma etapa de sua vida, sua brilhante carreira de magistrado, iniciando outra fase, que, espero, trará muitas alegrias, pois ele terá mais tempo de convívio com a família, poderá voltar à leitura que tanto aprecia, estar com filhos, a esposa e os netos. Poderá viajar, visitar a terra natal, que se orgulha do filho que tem e que bem a representa”, disse.
Segundo o magistrado, ambos se conheceram há anos, nos juizados especiais da capital, e daí a convicção de que o colega era um exemplo para os pares e os mais jovens. “Naquele ambiente logo percebi quão admirado ele era, pelos juízes, advogados, servidores, estagiários e as pessoas em geral, por sua operosidade, dedicação e compromisso com o jurisdicionado, mas acima de tudo por sua serenidade, equilíbrio e cordialidade para com todos, do mais humilde ao colega. Trata a todos da mesma forma, respeitosa e digna, levando cada um a sentir-se prestigiado. No Tribunal, juntos há dez anos, isso não mudou. Continua aquela mesma pessoa, tornando-se uma unanimidade na Casa. Nunca ouvi qualquer queixa ou restrição à conduta do desembargador Washington, estimado e respeitado por todos”, ressaltou.

De acordo com o juiz convocado Roberto Apolinário de Castro, o contato com o atual colega de câmara data desde a época em que ambos se cruzaram em Governador Valadares. “Tive o prazer de conhecê-lo, no momento em que deixava a advocacia e iniciava a magistratura. O senhor atuava na 1ª Vara Cível, mas pouco depois veio para Belo Horizonte. Por ter advogado muitos anos em Valadares, lembro-me dos comentários em torno da saída do senhor, reputado como um juiz competente, cuja remoção foi bem lastimada”, disse.
Para o juiz, o reencontro no Tribunal foi uma alegria e uma fonte de aprimoramento. “Fui acolhido com o mesmo carinho e carisma. Aprendo muito com o senhor, tanto com as lições deixadas em Governador Valadares, quando, volta e meia, pude apreciar suas decisões no início de minha caminhada e tomá-las como paradigma, como neste período como convocado, com os votos de sua relatoria. Saliento a profundeza, a sabedoria e a seriedade com que se conduz, em benefício do jurisdicionado”, destacou.
Amizade
Em nome próprio e dos demais magistrados aposentados presentes - o desembargador Roney Oliveira e a desembargadora Márcia Milanez -, o desembargador Penna Amorim agradeceu pela chance de exprimir um pouco do que pode nutrir na convivência com o homenageado e com outros colegas. “Foi um dos que me recebeu quando me removi para a 1ª Câmara Cível, no final de 2015, e desde então pude, embora já o conhecesse superficialmente, sentir todas as qualidades proclamadas até agora, exercidas de forma desprendida e sincera, como, por exemplo, declinou do exercício da presidência da câmara, que lhe cabia regimentalmente e em tantas outras circunstâncias já lembradas”, pontuou.
Segundo o desembargador Penna Amorim, ao longo da carreira, não só como magistrado e desembargador, mas como pessoa, como amigo e colega de trabalho e profissão, Washington Ferreira sempre teve postura fidalga, responsável e aberta aos debates. “Nos problemas que colegiadamente temos que decidir, fica a marca de sua personalidade simultaneamente forte e amena, tantas vezes reconhecida, e o agradecimento pelo convívio de tantos anos, nessa câmara e no que se tornou a família dessa unidade. Em nome dos desembargadores aposentados, dou-lhe as boas-vindas. Do lado de cá também há boas coisas a fazer”, disse.
Citando as canções “Nossa Dança”, de Ana Terra e Danilo Caymmi, que fala que “só o que não se cansa/ é a gente se querer bem”, e “Desenredo”, de Dori Caymmi, o desembargador Jair Varão discursou em nome dos demais componentes do TJMG. “Esse querer bem ao desembargador José Washington está retratado com o volume de magistrados que comparecem a esse trabalho, não de despedida, mas de renovação de toda a expectativa e do carinho que a figura desse fraterno amigo inspira e continuará inspirando através dos tempos. E a vida que se tece e se renova, recolocando cores, está presente nos seus netos”, disse.
De acordo com o desembargador Jair Varão, a amizade entre ambos começou na Comarca de Leopoldina, em tempos difíceis, quando as condições de trabalho eram precárias, seja no que se refere à estrutura física do fórum, seja nos bens de consumo disponíveis para os julgadores e suas equipes. “O ilustre homenageado passou pela comarca com exemplar lisura e carisma manifesto pelo respeito que impôs serenamente. A serenidade necessita de fibra. Não há serenidade sem fibra, sob pena de caracterizar-se a humilhação, a qual não permitimos. A autonomia desse magistrado se demonstrou naqueles priscos tempos, em que teve a firmeza necessária para afastar e processar um serventuário com mais de 30 anos de Casa. São detalhes de toda uma vida de que trazemos exemplos, recordações, memórias”, disse.
Conduta exemplar
A procuradora de justiça Gisela Potério Santos Saldanha falou em seu nome e também do procurador Saulo de Tarso Paixão Maciel. “Durante toda a carreira do desembargador José Washington não faltaram momentos de chegada e despedida. Pelas comarcas em que passou, isso foi inevitável e não significou tristeza, mas o sentimento de missão cumprida. Mais do que isso, havia o desafio do novo que estava por vir. Tive o prazer de atuar com o senhor no Tribunal e gostaria de agradecer profundamente pela gentileza e atenção demonstradas a mim em nome da sociedade e do povo mineiro. Cheio de sabedoria, honrou-nos a cada vez que pediu vista de uma sustentação oral proferida. Agradeço por seu compromisso, desejando que o senhor celebre a bênção da vida, da capacidade intelectual direcionada em prol do outro. Que assim continue e que agora se possa celebrar o futuro que está por vir”, concluiu.

O filho do homenageado, defensor público Marcelo Paes Ferreira da Silva, que também representou a defensora pública-geral, Raquel da Costa Dias, agradeceu pelo convite para compor a mesa e se manifestar. “As cidades de Montes Claros, Leopoldina, Coronel Fabriciano, Inhapim, Governador Valadares, Betim e Belo Horizonte puderam acompanhar sua trajetória brilhante de magistrado. As frequentes mudanças de domicílio, as ameaças, as angústias trazidas pelo distanciamento da família, a resiliência para suportar o peso da toga e a difícil e amiúde incompreendida missão de julgar incontáveis processos. Mas todos esses desafios foram superados por meu pai, que sempre norteou sua atuação pela defesa intransigente de valores, princípios e convicções que forjaram sua personalidade”, disse.
O defensor Marcelo Ferreira da Silva mencionou ensinamentos do desembargador Washington Ferreira. “Ame o que faz, seja empático com aqueles que mais precisam de você, saiba liderar e lidere pelo exemplo, tenha um caráter inabalável, saiba escolher aqueles que podem ajudá-lo e confie naqueles que foram escolhidos. Seja discreto e verdadeiramente imparcial. Não espere aplausos e não deixe de aprender com os eventuais equívocos. Passados mais de 30 anos de judicatória, sua carreira é interrompida pelo mero decurso do tempo. Mas para quem cumpriu seu dever, não há lugar para arrependimentos. Cito o poeta Joly de Oliveira, conterrâneo de meu pai, nascido e criado em Aimorés: ‘O magistrado não vem para responder, senão para a tessitura das dúvidas e incógnitas, para a antevéspera, para a eternidade sem aplausos, para o verso das matérias, das normas, das teorias. A exatidão jamais se casou com a alma da justiça.’ Meu pai, a beleza desse momento reside justamente em sua inexatidão, nos meios-tons, naquilo que ainda não foi revelado. Receba hoje o merecido descanso, não como punição, mas presente da vida, que não se encerra, apenas desvela, sob olhares e possibilidades inéditos, uma verdadeira antevéspera do porvir. Tenha a certeza de que os que mais o amam estarem ao seu lado no descortinar desses novos versos”, concluiu.
A assessora Giovanna Alves Pádua falou em nome da equipe do gabinete, que entregou um buquê de flores ao magistrado. Ela disse que, embora não desejasse viver o arremate desta fase da vida dele, o compromisso com o saber que foi repassado com o exemplo permanecerá: acordar todos os dias com a missão de praticar os valores, com responsabilidade e devotamento.

“É um privilégio estar aqui, neste dia cheio de emoções, não pela despedida, mas para demonstrarmos quão especial foi fazer parte da trajetória do Dr. Washington, e o orgulho que temos e teremos de ter trabalhado com ele. Como é fácil falar de pessoas boas! O senhor exerceu com dignidade, talento e responsabilidade o ofício dessa carreira tão bem-sucedida em que se destacou pela elegância, seriedade, celeridade e extremo compromisso para com a coisa pública e o jurisdicionado. Fez isso nunca com os olhos somente na lei, mas se revestindo de coragem e sensibilidade para ser mais justo. No próximo dia 19, encerrará o ciclo de exclusiva e intensa dedicação à justiça, que cumpriu com brilho, equilíbrio, coleguismo e muito entusiasmo. O sabor da despedida, apesar da saudade, que será diária, é suave. Em cada um de nós ficará a lembrança de sua generosidade, cavalheirismo, delicadeza e carinho. O senhor é um verdadeiro líder: sinta-se grato, realizado, muito feliz, porque, de forma impecável, cumpriu o dever assumido neste Tribunal e soube ser julgador, chefe, colega e acima de tudo amigo. Sentiremos saudades das conversas oficiais e daquelas descontraídas, entre um cafezinho e outro, das pautas de futebol e viagens, peripécias da juventude e casos das comarcas em que atuou, e dos dias comuns, em que só a presença silenciosa bastava. No íntimo, carregaremos a nossa marca: somos a equipe do Dr. Washington”, afirmou.
A irmã do homenageado, Maria Liana Ferreira Gontijo, falou em nome do irmão José Antônio e de outros parentes. “Com gratidão, honra e orgulho, venho a esta sessão representar nossa família: a esposa de Washington, Andreia, seus filhos, sobrinhos e netos, para prestar nossa singela homenagem por ocasião de sua aposentadoria. Ressaltamos suas inúmeras qualidades como juiz e desembargador, sua brilhante carreira, seu legado profissional e a dedicação de sua vida à magistratura estadual, o exemplo marcante para todos nós. Aos magistrados e servidores que trabalham e já trabalharam nessa instituição, prestamos nossos sinceros agradecimentos, em especial à sua equipe de gabinete e aos que contribuíram e o acompanharam em sua trajetória profissional, com empenho, carinho e zelo. O homenageado se aposenta, todavia seu trabalho não se finda neste ato, pois somente fecha um ciclo em sua vida e certamente , pela riqueza de seus conhecimentos e experiência, não será esquecido, porque partirá para outros empreendimentos, além também do merecido descanso. É um exemplo a ser seguido. Te amamos muito, estaremos sempre ao seu lado, aplaudindo suas conquistas. Obrigado por fazer parte de nossas vidas. Seja muito feliz”, declarou.

O advogado Rogério Santiago falou em nome da classe, agradecendo pela disponibilidade do desembargador Washington Ferreira para atender a categoria e por sua capacidade na análise de questões de direito administrativo e empenho em bem servir a coletividade. “Fico honrado em representar a Ordem dos Advogados do Brasil, pois homenageio um magistrado que ultrapassou as barreiras das letras frias da lei e das normas, e manteve as portas abertas a todos, tratando-nos com lhaneza e cortesia. Mais que isso, foi sempre cuidadoso, que não tinha o menor laivo de vaidade, e reconhecia que às vezes era preciso rever suas decisões, porque distribuir justiça e dizer o direito poderia exigir voltar atrás nos posicionamentos. Quantas vezes o vi reexaminar pontos detidamente e gastar tempo nisso, estudando as questões. Esse é o grande legado que o magistrado deixa para as próximas gerações. Todos devemos estar em constante aperfeiçoamento”, declarou, salientando seu desejo de ver, em breve, o magistrado ocupando as fileiras da advocacia.
Currículo
José Washington Ferreira da Silva nasceu em Aimorés, no Vale do Rio Doce, tendo-se graduado pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais em 1973 e concluído a Pós-Graduação em Direito de Empresa pela Fundação Dom Cabral/PUC Minas em 1975.
Ingressou na magistratura mineira em 1990. Passou pelas comarcas de Montes Claros, Leopoldina, Coronel Fabriciano, Inhapim, Governador Valadares e Betim, chegando, em novembro de 1999, à Comarca de Belo Horizonte. Na capital, atuou nos juizados especiais e turma recursal e foi juiz titular da 20ª Vara Cível e da 6ª Vara dos Feitos da Fazenda Municipal.
Em junho de 2011, tornou-se desembargador do TJMG. Foi orientador de Estágio dos Cursos de Formação Inicial de Juízes Substitutos da Ejef, ministrando o Módulo de Direito Privado e Processo Civil de 2003 a 2009.
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