A morte é a única certeza da vida, mas uma certeza paradoxal, opaca: sabe-se que ela é certa, mas dela não se sabe nada ao certo... O pensamento do filósofo José de Anchieta, professor aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explica em parte por que, mesmo a mortalidade sendo a verdade mais universal da condição humana, resta tanto assombro quando alguém se vai desta vida. Foi com esse sentimento de perplexidade que, em 27 de fevereiro último, o TJMG recebeu a notícia do falecimento do desembargador Walter Luiz de Melo.
Reconhecido por inúmeras qualidades, o desembargador tinha uma marca pessoal: a gentileza. Em maio de 2014, ele chegou a ser entrevistado pelo TJMG Informativo para a reportagem de capa da edição. Foi um dos personagens de matéria sobre o tema, por ter sempre se notabilizado na Casa pela forma gentil com que tratava todos, independentemente do cargo que ocupavam. Abrir portas, esperar a entrada de alguém no elevador, cumprimentar cada um, por exemplo, eram práticas adotadas por ele no dia a dia.
Na ocasião, o desembargador disse: “Por que ser arrogante? Ser gentil não diminui em nada a minha autoridade; pelo contrário, isso a reforça”, observou, acrescentando acreditar que o mundo – não só o do trabalho – poderia ser muito diferente se todos tivessem esse zelo para com quem está por perto. “Esses pequenos gestos impactam a vida de quem está ao nosso redor; ser gentil é uma forma de dizer que nos importamos com as pessoas. E quem é gentil recebe gentileza em troca”, afirmou.
Luta e superação
Ocorrida no auge da capacidade intelectual do desembargador, sua morte suscitou várias manifestações de pesar, nas diversas câmaras do TJMG. Em março último, o desembargador José Arthur de Carvalho Pereira Filho, durante sessão da 9ª Câmara Cível, recuperou a história de vida do magistrado, recorrendo a verso de Carlos Drummond de Andrade, extraído do poema “Infância”, para dizer que a vida de Walter Luiz de Melo tinha sido “mais bonita que a de Robinson Crusoé"...
Veja a homenagem do desembargador José Arthur ao desembargador Walter Luiz
Foi, de fato, uma existência tecida com muito sacrifício, luta e persistência, mas coroada pela superação. Natural de Barbacena, aos 8 anos de idade Walter perdeu o pai. Para ajudar a mãe a cuidar dos irmãos, aos 10 anos ele precisou interromper os estudos para trabalhar. Começou capinando o cemitério da cidade, tarefa que deixava amedrontado o então menino. Mas, no meio do caminho, não havia só pedras; houve o “dono de um circo”, que, vendo aquele menino ali, naquela labuta pesada, em meio aos túmulos, ofereceu a ele um ingresso para o circo e o passaporte para outro futuro, ao aconselhá-lo a voltar a estudar.
Os conselhos exerceram grande impacto na criança; Walter voltou aos bancos das escolas e, com perseverança, foi construindo uma nova história de vida. Em 1974, formou-se pela Faculdade de Direito de Lafaiete. Pouco depois, prestou concurso para delegado de polícia, atividade que exerceu durante 12 anos. Mas, acalentava um sonho: tornar-se juiz. Firme no propósito, ele prestou sete concursos para a magistratura, até ser bem-sucedido, entrando para a carreira em 1988. Tornou-se desembargador em 2011, depois de passar pelas comarcas de Piranga, Coromandel, Muriaé e Belo Horizonte.
Walter Luiz de Melo deixará saudades e um legado de humildade, perseverança e sabedoria para aqueles com quem conviveu, em especial a esposa, companheira inseparável de toda uma vida, Iêda Francisca Costa de Melo, e os três filhos: Ana Paula, Tânia e Júnior.
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