Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

Coral e Orquestra do TJMG: estudos continuam na pandemia

Atividades à distância permitem que integrantes continuem se aprimorando durante quarentena


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not-violino-viola-violoncelo4.jpgA regente e coordenadora pedagógica dos grupos, Luciene Villani, durante as aulas à distância com os alunos

Os movimentos dos dedos de David Epifânio Silva Pinto são precisos ao marcar as posições das notas musicais, e o olhar compenetrado dele mira fixamente a partitura disposta à sua frente. Um dos braços do jovem permanece rijo sobre o peito, e o outro acompanha a mão em movimentos ritmados que fazem um bastão de ferro balançar de um lado para o outro.

Mas quem o vê, dentro do quarto, empreendendo todo esse gestual, admira-se ao perceber que David abraça e toca um contrabaixo acústico imaginário. É assim, munido de uma força de vontade inabalável, que ele vem participando das atividades da Orquestra Jovem do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), projeto da Coordenadoria da Infância e da Juventude (Coinj) da Casa.

Com as aulas presenciais do projeto suspensas por causa da pandemia de covid-19, que impôs a todos o isolamento social, simular o contrabaixo e tentar imaginar os sons tirados dele foi a forma encontrada pelo jovem de 21 anos para participar da iniciativa durante este período, mesmo sem ter em mãos o instrumento musical.

“Minha mãe estava doente e é hipertensa, então eu não quis buscar o contrabaixo que me emprestariam na Coinj durante este momento de quarentena, pois fiquei com medo de me contaminar no Centro da cidade e assim levar o novo coronavírus para casa, o que a colocaria em risco”, diz o jovem.

Ao mesmo tempo, David não queria abdicar do tempo de confinamento para avançar em seu aprimoramento musical. “A música é o que dá sentido à minha vida, e ela me ajuda em vários aspectos. Tenho déficit de atenção, e tocar um instrumento me proporciona desenvolver a atenção difusa. Além disso, quando estou tocando, esqueço os problemas”, declara.

not-ensaio1.jpgDavid Epifânio e seu contrabaixo imaginário; na primeira foto, no alto, o professor do instrumento, Hudson Cunha

Momento de reinvenção

David é um dos cerca de 300 músicos — entre crianças, adolescentes e jovens — que compõem o Coral Infantojuvenil e a Orquestra Jovem do TJMG. Nestes tempos de pandemia, eles não pararam. “Assim que entramos em isolamento social, busquei soluções que nos permitissem continuar nosso trabalho”, explica a coordenadora pedagógica do projeto, Luciene Villani.

A musicista, que é também regente da orquestra, afirma que o momento tem sido de “reinvenção” para todos. Além das aulas online ao vivo, os alunos recebem videoaulas, áudios, links para salas de concerto, partituras novas e tarefas para casa. “O empenho de todos me emociona muito, pois nós conhecemos a realidade de cada um deles”, conta.

As dificuldades enfrentadas pelos integrantes do coral e da orquestra, bem como de seus familiares, são diversas, e vão das limitações de espaço físico dentro de casa até a falta de aparelho celular, tablet ou computador, ou mesmo de acesso à internet, para acompanhar remotamente as atividades.

“Vamos tentando vencer todas as dificuldades, pois para a grande maioria deles essas aulas são as únicas atividades regulares, e de qualidade, às quais estão tendo acesso neste momento, e sei que eles dão muito valor a elas”, observa Luciene. Ela ressalta que a equipe tem se empenhado para atender às condições de cada família, para que todos se sintam integrados.

noticia-coinj.jpgOs irmãos Nathan (E) e Abner (D): os meninos temiam que as atividades musicais fossem interrompidas por causa da quarentena

Superando desafios

A mãe do jovem David, Ronicleia dos Santos Silva, reconhece o esforço do filho diante das adversidades. “Não temos condições de ter o instrumento, mas mesmo assim ele não desanimou. Ver um filho se esforçando tanto e tentando aproveitar essa oportunidade para estudar mais ainda é algo que deixa a gente muito orgulhosa”, afirma.

Os irmãos Abner e Nathan Rodrigues, de 10 e 16 anos, respectivamente, também são motivo de orgulho para a mãe, Terezinha Rodrigues. Os meninos, que moram em Igarapé, entraram para o projeto no ano passado. Nathan aprende violino; e Abner, violoncelo. “Nathan era o único que já tocava um pouco, por causa da igreja, mas sabia apenas o básico”, conta Terezinha.

Ela revela que, por serem de uma família humilde, não tinham condições de comprar os instrumentos. “Mas a Coinj os emprestou e com isso eles têm aprendido muito. Hoje, respiram música! A vida deles é tocar, e as aulas à distância estão sendo a salvação neste momento de quarentena. O maior medo deles era de que essas aulas fossem interrompidas”, diz.

O tempo poupado com os deslocamentos têm sido usado de maneira preciosa. Os meninos gastavam em média duas horas e meia apenas para o deslocamento de Igarapé para Belo Horizonte, para as aulas de música presenciais. Esse tempo agora está sendo usado por eles para estudar os instrumentos.

“Neste momento, a música é o que está sustentando a minha vida de pé. Ela ocupa minha mente e traz alegria para a minha alma. Quando a gente já começa o dia tocando, a música determina como será o restante dele. E você contagia as pessoas ao seu redor”, declara Nathan.

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As diversas “carinhas”, cada uma de sua casa, durante uma videoaula do coral: “Estamos nos reinventando”, afirma a regente Luciene Villani

Segunda família

Reconhecendo também a importância da música e da manutenção das atividades do projeto na vida dos filhos, durante a pandemia, Maria Aparecida Ferreira tentou driblar as dificuldades para que os meninos pudessem seguir com as atividades, como membros do Coral Infantojuvenil da Coinj.

A mãe de uma outra criança que integra o grupo doou à família de Maria Aparecida um aparelho, e tem sido assim, por meio do aplicativo WhatsApp, que Ester e Uriel Ferreira Santos, de 13 anos e 11 anos, respectivamente, têm participado das atividades e se destacado nas avaliações individuais.

“O coral é a segunda família deles, então é muito importante que continuem tendo essas aulas. Eu sou muito grata a esse projeto, não só neste momento, mas sempre. Meu menino, por exemplo, falava muito errado. Hoje, ele fala muito bem! No caso da Ester, a paixão dela é esse coral”, conta a mãe.

Nesses dias de aulas remotas, Maria Aparecida confessa que tem aproveitado para observar como eles estão se desenvolvendo musicalmente. “Mas também não fico muito próxima de onde estão; eu me afasto um pouco para não atrapalhar. Vejo que eles estão muito dedicados e, ao ouvir eles cantando, eu sempre me emociono”, diz.

not-aula-violino1.jpgA turma de violino reunida para uma videoaula; a música tem exercido papel importante para os alunos neste momento de isolamento social

Interação constante

Um grupo de quatro meninas, de 9 a 12 anos de idade, que vivem na unidade de acolhimento institucional Lar Irmã Veneranda, do Grupo da Fraternidade Espírita Irmã Scheilla, também tem se beneficiado das aulas do projeto durante a pandemia. À distância, três delas mantêm as aulas de clarineta e uma delas de flauta transversal, além da teoria musical, destinada a todas.

“Ganhamos dois celulares para que pudessem acompanhar as atividades, e agora elas compartilham os aparelhos”, conta Margarida Monteiro Arcanjo, coordenadora do lar. Segundo ela, a continuação das aulas do projeto da Coinj durante o período de isolamento social tem sido muito importante para manter uma rotina para as crianças.

Nesse processo, Margarida destaca a interação permanente com os professores e os monitores do projeto, que têm demonstrado total disponibilidade para atender aos alunos. Ressalta também que as aulas de música à distância têm inundado de leveza a instituição, com os sons da flauta e clarineta suavizando a rotina dos que trabalham ali.

A regente Luciene Villani reconhece esse poder da música. “Como linguagem, e forte meio de expressão, a música atinge a todos, sem distinção, e tem ganhado um papel de destaque no mundo inteiro neste momento de isolamento social, junto com as demais artes”, avalia.

“Todos nós temos acompanhado diariamente, nas redes sociais, diversos trabalhos de artistas que criam, compartilham e nos permitem vivenciar momentos de pura beleza e de introspecção, em meio a tanta tristeza e à incerteza desta fase atual. Sinto-me grata por podermos manter o projeto nesta pandemia e termos nossos alunos e familiares com a música em suas casas”, conclui Luciene.

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As crianças seguem também com as aulas indiviuais; na foto, a aluna Giulia Mell e a regente Luciene Vilanni

Coral e orquestra

“Esforço e paciência são novas habilidades construídas por essa fase. Dessa forma, estamos em plena sintonia com o compromisso do TJMG: a Orquestra Jovem e o Coral Infantojuvenil não param! Tudo isso passará e em breve estaremos juntos novamente”, observa a desembargadora Valéria Rodrigues Queiroz, superintendente da Coinj.

O Coral Infantojuvenil e a Orquestra Jovem são iniciativas de sucesso desenvolvidas pela Coinj que oferecem a crianças e adolescentes a chance de descobrir um novo horizonte e novos caminhos, por meio da música. As atividades são voltadas principalmente para meninos e meninas em situação de vulnerabilidade social. 

São oferecidas aulas de canto, teoria musical e de diversos instrumentos. Os participantes têm ainda a chance de se apresentarem em inúmeras oportunidades, sendo uma delas a Cantata de Natal do TJMG, que acontece todos os anos, em dezembro, na sede histórica do Palácio da Justiça, na capital.

O projeto do coral e da orquestra conta atualmente com oito instrutores — de violino, viola, violoncelo, contrabaixo, clarineta, sax, percussão e teoria musical —, além de um quadro composto em sua maioria por ex-alunos do projeto, sendo um spalla e cinco chefes de naipe, que atuam na orquestra e nas monitorias de instrumento.

Conta também com dez monitores de orquestra e quatro monitores avançados — pianista co-repetidor, musicalização infantil, violão e flauta transversa — e sete trabalhadores vinculados à Associação Profissionalizante do Menor (Assprom), adolescentes que são alunos do projeto e se preparam para atuar também como monitores.

 

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