Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

Biblioteca inusitada faz sucesso no Fórum Lafayette

A consultoriolioteca empresta livro e aceita doações; acervo tem mais de 530 obras


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A situação não é incomum. Enquanto aguarda por uma consulta médica, o paciente normalmente se vê diante de revistas antigas de celebridades e de fofocas para ler na sala de espera. Não é assim no Fórum Lafayette, em Belo Horizonte.

Em um minúsculo canto onde quatro cadeiras se espremem, o servidor da Justiça pode aguardar seu atendimento médico ou odontológico diante de um universo literário. Uma pequena biblioteca se formou ali. Doações esporádicas resultaram em um acervo de mais de 530 obras, sendo que 370 estão emprestadas neste momento. Desde setembro de 2016, a iniciativa foi abraçada pelos funcionários da Gerência de Saúde no Trabalho (Gersat), local que reúne os consultórios médico e odontológico dentro do fórum.

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As servidoras Sônia Veloso (à frente) e Júnia Britto criaram o espaço em setembro de 2016

Gratuitamente, o paciente pode passar os olhos pelas páginas dos livros enquanto aguarda atendimento ou, se preferir, consegue levar a obra emprestada para casa, sem cadastro, sem ficha de inscrição, somente anotando data, nome e telefone. O empréstimo também é liberado ao público externo, e o dia da entrega é determinado pelo próprio leitor.

O acervo é formado por romances, suspenses, contos, poesias e biografias, além de quadrinhos, livros espíritas e obras especializadas em direito, psicologia e economia. Tem autores cariocas, gaúchos, catarinenses, homens e mulheres, nativos e estrangeiros, inclusive vencedores de honrarias literárias como o português José Saramago, que conquistou o Nobel em 1998, e João Cabral de Melo Neto, Rachel de Queiroz e João Ubaldo Ribeiro, ganhadores do mais importante prêmio da língua portuguesa, o Camões de Literatura.

Bibliotecas inusitadas

A ideia da biblioteca no consultório se assemelha àquelas criadas em Minas e pelo Brasil dentro de borracharias, em pontos de ônibus e até em caminhões, para facilitar o acesso aos livros. Pelo mundo, as iniciativas inusitadas se multiplicam e ganham projetos em castelos no alto de penhascos, na garupa de bicicletas e até em casas comerciais que se assemelham a açougues.

“Mas, olha que engraçado, nunca vi uma biblioteca criada em um local onde se lê tanto como nas salas de espera”, brinca a dentista do Tribunal de Justiça de Minas, Mônica Chaves Fernandes. O professor de português de escolas públicas na capital, Vanderson Jacinto da Silva, concorda e sugere a expansão da ideia por vários cantos de prédios públicos: “Por mais bibliotecas em todos os lugares”.

O superintendente de Bibliotecas e Suplemento Literário da Secretaria de Estado de Cultura de Minas, Lucas Guimaraens, adorou a ideia da “consultoriolioteca” e brinca que não teme a concorrência dela com a biblioteca pública estadual, instalada na Praça da Liberdade. Para ele, é um privilégio disputar o “mercado” com “rival” tão criativo. “Não tem concorrência, o que existe é complementariedade. No mundo ideal, todo e qualquer espaço público deveria ter um acervo para as pessoas que transitam ali.”

O espaço ainda pequeno pode até ser expandido, é o que sugere o juiz diretor do foro de Belo Horizonte, Christyano Lucas Generoso. “É uma alternativa criativa, simples, gratuita e muito próxima de servidores e juízes para acesso ao conhecimento. É preciso propagar a literatura”, concluiu.

Satisfeitas estão as idealizadoras da biblioteca, a enfermeira Sônia Veloso e a oficial judiciária Júnia Britto. “A implantação só foi possível porque todos os trabalhadores do setor gostam muito de leitura, por isso resolvemos estender nosso hábito para os pacientes que aguardam atendimento na sala de espera”, ressalta a enfermeira.

Acervo

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A biblioteca reúne até obras raras e empresta livros sem necessidade de cadastro

O vencedor do Nobel Saramago está representado no acervo por uma de suas mais famosas obras: “Ensaio sobre a Cegueira”. A história do livro que virou até filme hollywoodiano levou milhões de pessoas ao cinema em todo o mundo e, na biblioteca, foi emprestado cinco vezes. Uma delas para a auxiliar de escritório Junia Lane. “É o livro da minha vida. O li três vezes”, disse emocionada.

A servidora Vanessa Lidiane optou também por uma história forte: “Vinho e Guerra”, dos jornalistas Don e Petie Kladstrup, que, conta ela, fala da saga real de “famílias de vinicultores franceses que impediram os nazistas de roubar um de seus principais símbolos, o vinho". Para isso, os produtores sabotaram trens que transportavam vinho para a Alemanha e também construíram paredes com teias de aranha para esconder safras preciosas.

Machado de Assis também está à disposição para empréstimo. “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, no qual o escritor cria um narrador que resolve contar sua vida depois de morto, se perde entre outras obras do acervo. Não foi emprestado nenhuma vez, e a genialidade do autor carioca ainda está encoberta para os leitores da “consultoriolioteca”.

Outro ganhador do Nobel, Pablo Neruda, um dos maiores poetas e pensadores da história, também está no acervo e embalou as noites e os sonhos da auxiliar Consuelo Bretas com o livro “Pra Nascer Nasci”. “Eu nem sabia quem ele era. Peguei o livro porque achei a capa linda. Quase tive um troço quando li os textos pela primeira vez. Fui na internet pesquisar e descobri tudo da vida do Neruda”, diz.

E, entre as 530 obras, um achado: “Julieta”, da dinamarquesa Anne Fortier. Em 450 páginas, a escritora reescreve a lenda de mais de 600 anos que imortalizou Shakespeare e joga uma nova luz sobre uma das maiores histórias de amor do mundo, vivida por Romeu e Julieta. Vale a pena ler e reler, pois, como diz o moçambicano Mia Couto, “um livro só começa a existir quando o lemos pela segunda vez”.

A “consultoriolioteca” aceita doações para enriquecer seu acervo.

 

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