Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

Vara infracional recebe 1ª exposição das Casas de Semiliberdade de Belo Horizonte

Iniciativa promovida em parceria com a ONG Pemse contou ainda com lançamento de livro


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O Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente Autor de Ato Infracional de Belo Horizonte (Cia-BH), por meio da Vara Infracional da Infância e Juventude, e o Polo de Evolução de Medidas Socioeducativas  (Pemse), promoveram a primeira exposição artística e literária das Casas de Semiliberdade de Belo Horizonte. Dezenas de trabalhos desenvolvidos por adolescentes das 5 casas de semi-internação da capital foram expostos no Hall de entrada do CIA-BH, nos dias 25/4 e 26/4.

A abertura da exposição teve as presenças da juíza titular da Vara da Infância e da Juventude de Belo Horizonte, Riza Aparecida Nery, da superintendente de Gestão Socioeducativa da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), Alice Emmanuele Teixeira Peixoto, da promotora de Justiça Mônica Sofia Pinto Henriques da Silva, da defensora pública Ana Paula Coutinho Canela e Souza e do presidente do Pemse, Fernando Rinco Rocha.

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Mesa formada para a aberturta da exposição: a juíza Riza Nery (à esquerda) destacou o engajamento das equipes do CIA-BH e das Casas de Semiliberdade no desenvolvimento do projeto (Crédito: Gláucia Rodrigues / TJMG)

Também participaram dezenas de adolescentes atendidos pelo CIA-BH, profissionais envolvidos no projeto, dentre eles psicólogos, assistentes sociais, comissários da infância e juventude e agentes sócioeducativos, e familiares dos adolescentes.

Na abertura da exposição, a juíza titular da Vara da Infância e da Juventude de Belo Horizonte, Riza Aparecida Nery, disse que o projeto nasceu de um desejo da magistrada e diretora da casa semiliberdade Venda Nova, Luciana de Souza Cândida, conhecida carinhosamente como Baby,  durante as visitas periódicas às unidades da capital para conhecer as oficinas profissionalizantes e terapêuticas.

A ideia, segundo a magistrada, contagiou os representantes das outras unidades e do Pemse, e evoluiu para o desenvolvimento do workshop literário “Trabalhando a Escrita Ativa por Meio da Criação de Livros e Cartilha”, que resultou na publicação de um livro de poesias escritas pelos adolescentes sobre a temática da valorização das mulheres.

A juíza Riza Nery ressaltou que o engajamento das equipes do CIA-BH e das Casas de Semiliberdade no desenvolvimento do projeto da exposição, demonstram o comprometimento com a causa infanto-juvenil. Ela enfatizou a relevância de dar visibilidade e publicidade aos trabalhos desenvolvidos pelos adolescentes para que essas manifestações artísticas não fiquem restritas às instituições. “Esses talentos são a motivação do evento, o qual certamente será o passo para muitos outros”, concluiu.

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Trabalhos desenvolvidos por adolescentes das cinco casas de semi-internação da capital foram expostos no Hall de entrada do CIA-BH (Crédito: Gláucia Rodrigues/TJMG)

O presidente do Pemse, Fernando Rinco Rocha, destacou a importância de o CIA-BH inaugurar a exposição dos trabalhos dos adolescentes atendidos pelo sistema socioeducativo de semi-internação da capital - segundo ele, “um espaço fundamental para promoção da cidadania”. Fernando Rocha também elogiou o empenho dos profissionais das Casas de Semiliberdade e observou que “nada seria possível se esses profissionais não tivessem o sentimento da socioeducação”.

A superintendente de Gestão Socioeducativa da Sejusp, Alice Peixoto, avaliou positivamente o comprometimento da Instituição Pemse, co-gestora do sistema socioeducativo no Estado, e das Casas de Semiliberdade no desenvolvimento das habilidades dos adolescentes e do fortalecimento dos vínculos com a família e com comunidade em que vivem.

Ela disse que esse trabalho é fundamental para o sucesso do sistema socioeducativo de semiliberdade, por promover a responsabilização dos jovens e a reinserção social, o que propicia o rompimento da trajetória infracional. Alice Peixoto afirmou ainda que a semiliberdade é a alternativa de medida socioeducativa que permite manter vínculos também para que a família e a comunidade percebam a evolução desses adolescentes.

A diretora da Casa de Semiliberdade de Venda Nova do Pemse, Luciana de Souza Cândida, reforçou a importância da exposição no CIA-BH e do trabalho que foi desenvolvido ao longo da preparação, pois proporcionaram uma mudança de perspectiva para os adolescentes. “Cotidianamente, os jovens chegam aqui no CIA-BH com o olhar de apreensão e hoje eles chegam aqui e veem o trabalho deles. É uma outra perspectiva, uma mudança de paradigma”, salientou. 

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Obra de um dos adolescentes retrata a família dele e o ambiente em que cresceu (Crédito: Gláucia Rodrigues/TJMG)

O trabalho artístico apresentado por um dos adolescentes atendidos sintetiza todo esse processo e os objetivos perseguidos. O adolescente Daniel* é de uma cidade a mais de 200 quilômetros da capital e trouxe para a exposição um quadro em que retrata sua família em primeiro plano e, ao fundo, a cidade e a comunidade onde vive.

Ele destacou os conhecimentos e experiências já assimilados nos três meses em que está frequentando o Centro Socioeducativo Ipiranga, para jovens de 12 a 15 anos. Disse que está mais consciente sobre suas ações e sobre o que elas lhe trarão no futuro e revelou que o curso profissionalizante já lhe rendeu uma entrevista de emprego.

O projeto também trouxe para a adolescente Maria*, de 17 anos, semi-interna da Casa Santa Amélia, diversas reflexões sobre o universo feminino. “Foi muito importante trabalhar essa temática porque as mulheres ainda vivem em uma realidade com muitas diferenças, tanto no lado profissional quanto nas ruas, onde a gente vê que não somos respeitadas. O projeto faz as pessoas refletirem sobre isso e demonstra preocupação com os adolescentes”, disse.

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Uma das adolescentes, semi-interna da Casa Santa Amélia, disse que o projeto despertou diversas reflexões sobre o universo feminino (Crédito: Gláucia Rodrigues/TJMG)

Pemse

O Polo de Evolução de Medidas Socioeducativas (Pemse) é uma Organização Não Governamental criada em Juiz de Fora, responsável, desde 2006, pela administração das unidades de Minas Gerais que aplicam a medida socioeducativa de semiliberdade. Os espaços abrigam aproximadamente 300 adolescentes em todo o estado. Em Belo Horizonte, a ONG é responsável pela gestão das unidades de Venda Nova, Santa Amélia, Letícia e Ipiranga.

A Pemse oferta atividades artísticas, artesanais, culturais e  profissionalizantes para promover a ressocialização dos adolescentes. Há 10 anos é gerida pelo psicólogo Fernando Rincon, para quem o maior desafio da entidade é transformar os pensamentos e valores de jovens que se envolvem  em situações de conflitos com a lei. “Buscamos propiciar para os   adolescentes e para as suas famílias experiências positivas e mostrar caminhos de geração de renda para que eles criem novas realidades em suas vidas”, afirma.

Livro

A mestranda em botânica aplicada e estudiosa de literatura e escritas de livros paradidáticos Cristiane Petrini foi a responsável pela produção artística e literária dos adolescentes, com foco na valorização da mulher na sociedade. A pesquisadora conduziu o workshop literário "Trabalhando a Escrita Ativa por Meio da Criação de Livros e Cartilha", voltado para a poesia. Participaram do workshop 16 adolescentes homens e 2 adolescentes mulheres.

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A juíza Riza Nery e o livro lançado durante a abertura da exposição (Crédito: Gláucia Rodrigues / TJMG)

“Realizamos rodas de conversa sobre temas como a violência e a trajetória da mulher na sociedade. Os meninos puderam expressar as suas opiniões e relatar as vivências pessoais com seus pais e mães. A partir disso, cada adolescente produziu o texto e também uma ilustração para o poema, criada por meio da plataforma Canva”, afirmou Cristiane.

“No início, os meninos expressaram preconceitos sobre a temática, mas aos poucos fomos desconstruindo essas resistências. Foi um momento de muito aprendizado. Nesse processo, eu levei figuras femininas para exemplificar o papel da mulher na sociedade, refletimos sobre a trajetória da jornalista Glória Maria, da rapper MC Dricca, e da Marielle, entre outras mulheres emblemáticas. Ao final, produzimos numa primeira triagem 24 livros, mas serão impressas ainda mais 500 tiragens.” acrescentou.

*Nomes fictícios 

Diretoria de Comunicação Institucional – Dircom
TJMG – Unidade Fórum Lafayette
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