“Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda!”

Evoco esse verso da poeta Cecília Meireles, em Romanceiro da Inconfidência, para iniciar esta minha mensagem neste 21 de abril, que reconheço como um dos dias mais emblemáticas no calendário de eventos comemorativos em Minas Gerais. Para além de exaltar a figura mais notória da Inconfidência Mineira — Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes —, a data celebra os ideais que inspiraram a conjuração que se deu em nosso Estado, há mais de 200 anos.

 Foi aqui, ainda na segunda metade do século XVIII, que uma estirpe destinada a aspirar ideais de liberdade emergiu e estabeleceu um marco crucial para o povo mineiro e para o Brasil que se edificaria, nos séculos seguintes. Movidos por utopias, esses homens, chamados de “inconfidentes”, conspiraram heroicamente, em encontros na surdina, à luz de velas, por independência e justiça.

Como mineiros, somos filhos e filhas dessa conjuração, pois foi a partir daquele movimento, que uniu poetas, médicos, engenheiros, cônegos, comerciantes e militares, que Minas Gerais, em grande medida, forjou-se. Nosso Estado emergiu, sobretudo, da fabulação de um ideal de liberdade — o Libertas quae sera tamen, lema da Inconfidência Mineira que tremula em nossa bandeira, de maneira inexorável.

Contamos hoje com 853 municípios, onde vivem quase 21 milhões de habitantes — a segunda maior população entre os estados brasileiros.  

Estamos, todavia, unificados no sentimento de pertencimento a Minas Gerais. Aqui convivem harmonicamente o congado e os polos tecnológicos, os fogões a lenha de cozinhas lendárias, fazendas seculares, os quintais com os pés de jabuticaba, o casario colonial, as estâncias hidrominerais, o cerrado, nossos rios, nosso artesanato, e também os centros urbanos, as rodovias de tráfego intenso, as periferias, as universidades, as indústrias, a produção agropecuária pujante.

 É um 21 de abril diferente de todos os outros, em tempos tão difíceis como este que estamos vivendo. Reafirmo que estamos em tempo de travessia e não teremos tarefa fácil pela frente, pois, antes de tudo, temos preocupação com a saúde de todos. No entanto, não podemos esquecer que em meio a essa pandemia e em razão dela, emerge uma crise econômica avassaladora, talvez uma das mais graves de toda a história, com alto índice de desemprego, queda da produção, do comércio e dos negócios em geral, sem oportunidades para novos empreendimentos.

Somos uma Minas unificada na nossa diversidade, e somos atravessados pelo ancestral e inalienável desejo de liberdade e justiça. Neste 21 de abril, reafirmo que o Poder Judiciário seguirá sempre inabalável no compromisso de defender o Estado democrático de direito, de contribuir para a redução das desigualdades sociais — condição para a paz social — e de promover o bem comum. Honrando o legado de nossos antepassados, seguiremos firmes na construção de uma sociedade melhor e mais justa.

Presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais