Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

CNJ e TJMG oferecem curso a profissionais do direito

Capacitação para a negociação visa à resolução de causas complexas


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O presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), desembargador Nelson Missias de Morais, fez na manhã desta sexta-feira, 15 de março, a abertura do Curso de Capacitação em Negociação em Causas Complexas, promovido pelo Conselho Nacional de Justiça. Veja o álbum no Flickr.

O desembargador declarou que o curso certamente terá repercussão duradoura, “pela alta capacidade multiplicadora dos juízes, procuradores, promotores e defensores presentes”, e também porque o conteúdo programático descortina “o mundo teórico e prático da negociação, dos aspectos simples até questões mais complexas, de base científica”.

As atividades se estendem até as 18h do sábado, no Plenário 11 do edifício-sede do Tribunal de Justiça, na avenida Afonso Pena, 4.001. A iniciativa é consequência da criação do Observatório Nacional sobre Questões Ambientais, Econômicas e Sociais de Alta Complexidade, Grande Impacto e Repercussão.

Resultado da parceria entre o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), o curso tem como público-alvo oito juízes do Judiciário estadual mineiro, membros da Justiça Federal e do Ministério Público que atuam em demandas judiciais de alta complexidade e repercussão social. O facilitador é Yann Igor Pierre Georges Duzert, professor titular da Fundação Getúlio Vargas (FGV/RJ), consultor e autor de 17 livros sobre negociação.

Na abertura, estiveram presentes também os conselheiros Maria Tereza Uille, do CNJ, e Valter Shuenquener de Araújo, do CNMP.

Negociação

Ao fazer a abertura, o presidente frisou a tradição da autocomposição em Minas, citando como uma negociação bem-sucedida, com a participação do TJMG, o acordo que pôs fim a um conflito de mais de cinco anos, a Ocupação Izidora, considerada a maior da América Latina.

“A negociação ainda não é uma prática rotineira na Justiça brasileira, mas vejo-a como forma de contribuir para reduzir a litigiosidade e a excessiva judicialização. Negociar soluções deve fazer parte do nosso dia a dia, sem que nos afastemos das previsões e disposições legais. Mas a margem que temos é razoável, desde que o foco seja a busca da paz social, missão inarredável e insubstituível da Justiça”, enfatizou.

Para o presidente, há muito o que restaurar, recuperar e aprender com o desabamento da barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho. “A nossa e as gerações futuras jamais esquecerão esse desastre, o maior da história brasileira, somadas as perdas humanas e ambientais. Cabe-nos tirar dele todas as lições possíveis, para que essa tragédia não se repita em tempo algum”, concluiu.

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O presidente Nelson Missias de Morais (à dir.) comentou que a negociação é uma forma de contribuir para reduzir a litigiosidade e a excessiva judicialização

A conselheira Maria Tereza Uille destacou a importância da união de esforços entre o Poder Judiciário e o Ministério Público, nos segmentos estadual e federal, para buscar alternativas viáveis, capazes de dar celeridade às demandas apresentadas pelos atingidos com o desabamento da barragem em Brumadinho. Ela entende que a mediação e a conciliação podem ser a forma mais ágil para reparar os danos causados.

A mesma linha de entendimento foi adotada pelo conselheiro nacional do Ministério Público Valter Shuenquener de Araújo. Presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Fundamentais, ele considera que a realização do curso, reunindo o Judiciário e o Ministério Público Estadual e Federal, é um marco histórico. Ambos estarão aparelhados para tratar de processos complexos com estratégias de negociação antes de assinarem uma sentença.

O conselheiro observou que grande parte dos magistrados e promotores possui formação voltada para solucionar conflitos com base na legislação. “Ambos são forjados para o litígio”, disse. Ele avalia que a adoção da conciliação como alternativa ao julgamento tem mostrado ser o caminho mais eficaz para a solução rápida das desavenças entre as pessoas. A negociação pode resultar num "sim" entre as partes, sem ressentimentos. 

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O conselheiro Valter Shuenquener observou que magistrados e promotores devem aprimorar técnicas de negociação e conciliação para finalizar processos judiciais

Oportunidade

Segundo Yann Duzert, o curso fornece instrumentos aos magistrados para conduzir negociações com equilíbrio, abraçando sempre que possível a chamada resolução alternativa de disputas. Juízes e promotores passam a ser facilitadores, isto é, observadores privilegiados, devido ao seu conhecimento e treinamento, para intervenções inteligentes em prol do entendimento.

“Esses profissionais têm o papel de ajudar as partes a desenvolver empatia, reconhecer erros e reparar os danos, explorando uma linguagem que enfatize o aprendizado, evite julgamentos de valor e respeite as identidades. Eles podem auxiliar o alinhamento de noções e percepções, agindo no momento certo para que as emoções não prejudiquem o processo”, afirma.

O estudioso ressalta que os métodos consensuais atualmente solucionam 97% das ações civis nos Estados Unidos da América, tendo conquistado também a adesão de 70% dos processos de familiares das vítimas do voo 3054 da TAM, responsável pela morte de 199 pessoas em 2007, em São Paulo.

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O facilitador Yann Igor Pierre Georges Duzert abordou questões de natureza ambiental na mediação de conflitos

Lisura

“Na era da transparência, negociar passa mais pela gestão do risco da informação e da decisão que pelo poder, pela agressividade e pela força. Trata-se de um jogo cognitivo, no qual os ganhos advêm do comprometimento ético, da racionalidade e do controle das emoções e reações”, diz.

Nessa perspectiva, o outro lado não é encarado como um adversário ou antagonista, mas como alguém que vai ajudar a achar uma solução que vise ao bem comum, que embarca conosco num aprendizado conjunto. Pode haver diferentes pontos de vista, mas é preciso gerir as identidades, para que as discordâncias não sejam levadas para um nível pessoal, e sim vistas como autoafirmações que devem ser respeitadas.

Duzert defende ainda que não se deve buscar o acordo a todo custo nem considerar, na ausência de um entendimento, que a negociação fracassou. A validade da negociação está no aumento da probabilidade do acordo, do ganho para todos os envolvidos, da produtividade e da confiança.

“Se o Judiciário conclui que uma das partes ou ambas não estão de boa-fé, se todas as esperanças de acordo malograrem, cabe decidir de acordo com a lei. Para isso dispomos da Polícia, da Justiça e de outros atores”, argumenta.

Programação

A programação é dividida em dois dias: na sexta,durante a manhã, foi a etapa teórica, de familiarização com conceitos e metodologias. Serão discutidas a neurociência da negociação, a biologia do comportamento e a ciência da decisão.

O tema da tarde foram as abordagens para questões de natureza ambiental na mediação e na resolução de conflitos, táticas para avaliar opções e estudos de caso.

A programação de sábado será destinada exclusivamente ao rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, ocorrido em Brumadinho em 25 de janeiro. A ideia é que seja feito um diagnóstico e que o grupo elabore uma proposta de planejamento para a situação. Acompanhe as ações do TJMG no caso.

Participantes

Participaram, no âmbito da Justiça estadual mineira, os juízes Perla Saliba Brito, da 1ª Vara Cível, Criminal e da Infância e da Juventude de Brumadinho; Marcela Oliveira Decat de Moura, da 2ª Vara Cível, Criminal e de Execuções Penais de Mariana; Flávia Generoso Mattos, da 2ª Vara Cível, Criminal e da Infância e da Juventude de Congonhas; Renata Nascimento Borges, da Comarca de Barão de Cocais; Antônio Francisco Gonçalves, da 2ª Vara Cível, Criminal e de Execuções Penais de Itabirito; Márcia de Sousa Victória, lotada na Comarca de Itabira; Maria Juliana Albergaria Costa de Caux, da Vara Criminal e da Infância e da Juventude de Nova Lima; Cláudio Alves de Souza, do Juizado Especial de Governador Valadares; Elton Pupo Nogueira, atualmente cooperando nas Varas da Fazenda Pública e Autarquias de Belo Horizonte.

Observatório

O Observatório Nacional sobre Questões Ambientais, Econômicas e Sociais de Alta Complexidade, Grande Impacto e Repercussão, criado no fim de janeiro de 2019, pretende acelerar as respostas do sistema de justiça às vítimas de grandes catástrofes, seja pela via judicial, seja pela extrajudicial.

A medida foi adotada após o rompimento da barragem da mineradora Vale no município mineiro de Brumadinho, em 25 de janeiro. O órgão também vai monitorar o desastre ambiental de Fundão, em Mariana, em 2015; o incêndio na boate Kiss, na cidade gaúcha de Santa Maria, em 2013; e a chacina de fiscais do trabalho no Município de Unaí (MG), em 2004.

O observatório tem caráter permanente e almeja promover a integração institucional, elaborar estudos e propor medidas concretas de aperfeiçoamento das diversas entidades componentes.

Currículo

Yann Igor Pierre Georges Duzert tem pós-doutorado na Harvard Law School do Massachusetts Institute of Technology (MIT/EUA) e doutorado em gestão do risco, da informação e da decisão na École Normale Supérieure de Cachan/École Polytechnique de Paris (2002).

Mestre em Gestão Internacional na HEC-Lausanne/École Supérieure de Commerce de Rennes (1999), Duzert tem experiência na área de administração com ênfase em negociação e resolução de conflitos.

Além de lecionar em cursos de graduação, pós-graduação, mestrado e MBA em negociação, coleciona experiências profissionais exitosas em diversas empresas renomadas na Europa, Ásia, América do Norte e América do Sul.

Duzert é também CEO da Newgotiation/Temperance Ltda. e professor associado coordenador de cursos preparatórios para Doctorate in Business Administration (DBA) na Fundação Getúlio Vargas (FGV/RJ) e na Rennes School of Business.

Presenças

Prestigiaram o início do curso o 1º vice-presidente do TJMG, desembargador Afrânio Vilela; a 2ª vice-presidente, desembargadora Áurea Brasil; as desembargadoras Shirley Fenzi Bertão, coordenadora do Cejusc Ambiental, e Maria Aparecida de Oliveira Grossi; os juízes auxiliares da Presidência Luiz Carlos Rezende e Santos e Jair Francisco dos Santos; os juízes auxiliares Armando Ghedini Neto, da 1ª Vice-Presidência, e Luís Fernando de Oliveira Benfatti, da 2ª Vice-Presidência; entre outros.

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