A adoção de Gabriel Ferreira de Souza, um jovem de 18 anos com paralisia cerebral, após quase duas décadas vivendo em instituições de acolhimento, vem emocionando os moradores de Arinos, no Noroeste de Minas Gerais.
Nascido em Januária, no Norte do Estado, em 12/4 de 2007, Gabriel foi acolhido pela 1ª vez aos 4 meses. Ele foi encaminhado pelo Conselho Tutelar ao abrigo institucional "O Pequeno Davi", chegando em uma situação classificada como de extrema vulnerabilidade. Os registros da época indicavam que ele pesava 2,35 kg, apresentando desnutrição grau II, aspecto anêmico, ausência de movimentos no pescoço e no perímetro cefálico elevado.
Diagnosticado com paralisia cerebral, na forma tetraplégica mista, associada à disartria, Gabriel é dependente da ajuda de terceiros para suas atividades diárias.

Em 2010, houve uma breve tentativa de retorno à família de origem, mas o menino retornou ao acolhimento devido à permanência de situações consideradas de risco. Em julho de 2013, ele foi transferido para o abrigo institucional "Gotas de Esperança", atual Associação de Meninas e Meninos de Arinos (Ammar).
A oficiala judiciária Deuseni Santana, servidora da Comarca de Arinos responsável pelo acompanhamento processual dos acolhidos e voluntária na Ammar, relata que o que mais lhe chamou a atenção em Gabriel é "sua capacidade de se comunicar sem palavras", por meio de sorriso, olhar, gestos e expressões faciais.
Ele era conhecido na cidade como o "garoto feliz do abrigo" ou "anjo Gabriel". "Meigo, alegre, participativo e extremamente carinhoso", define Deuseni Santana.
Apesar das limitações na aprendizagem formal, Gabriel concluiu o Ensino Fundamental em escola regular, apresentando progressos significativos em habilidades e comunicação. Atualmente, ele frequenta o 3º período da Educação de Jovens e Adultos (EJA) na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Arinos.
Com a proximidade da maioridade, Deuseni Santana destaca que a "incerteza sobre o futuro fora do abrigo, trouxe ansiedade e nervosismo a Gabriel".
Final feliz
Esgotadas as possibilidades de reintegração à família biológica – a mãe teve outros seis filhos, mas Gabriel não estabeleceu vínculos e não recebeu visitas maternas durante o acolhimento –, ele foi incluído nos cadastros de adoção, mas não encontrou pessoas dispostas a adotá-lo ao longo de sua infância e adolescência.
A oportunidade surgiu quando o jovem completou 18 anos. O casal Samira Sales e Lucas Nogueira, que atualmente reside na cidade de Caçapava, no interior de São Paulo, já havia adotado três irmãos na Comarca de Arinos, em 2020, e, mesmo após se mudar de estado, relata que "sentia como se tivesse deixado para trás o quarto filho". Eles buscaram notícias sobre Gabriel e chegaram a fazer chamadas de vídeo com o jovem.
Ao tomarem conhecimento de que Gabriel atingiria a maioridade e poderia ser desligado do abrigo sem um destino definido, o casal intensificou o desejo e buscou a assistente social judicial Fátima Valadares.
Samira Sales fala sobre a adoção do jovem em situação de acolhimento:
"Meu sentimento é de imensa gratidão a Deus por ele me permitir ser mãe desse tesouro tão precioso que é o Gabriel. E, também, de muita alegria, porque ele veio ocupar o lugar que sempre foi dele, veio completar nossa família."
Segundo a assistente social judicial Fátima Valadares, o trabalho de aproximação foi atípico, já que Gabriel havia completado 18 anos. Ela usou uma foto da mãe adotiva com as filhas para iniciar o diálogo, e o jovem manifestou interesse em conversar com eles.
Ao ser questionado sobre o desejo de ser adotado, como mostra a servidora, Gabriel, que se comunica por meio de sorrisos e gestos, manifestou a sua alegria, respondendo positivamente.
O casal esteva ciente de que o jovem necessitava de cuidados integrais, mas não hesitou em assumir a guarda, como revela Lucas Nogueira:
"Quando decidi adotar meu filho, já com 18 anos e com deficiência, senti que estava escolhendo algo muito maior do que imaginava. Não era apenas abrir as portas da minha casa, mas também do meu coração. Desde o primeiro olhar, percebi que ele carregava uma força e uma doçura únicas, e que juntos aprenderíamos muito um com o outro. Há dias desafiadores, é verdade, mas cada pequeno avanço, cada sorriso, me faz entender o verdadeiro sentido do amor incondicional. Hoje, não consigo mais imaginar minha vida sem ele. O Gabriel me transformou, me ensinou a ter mais paciência, empatia e a valorizar cada momento e as pequenas coisas."
Exemplo
A oficiala judiciária Deuseni Santana descreve a notícia da adoção como "imensamente alegre e emocionante", comparando o evento, ocorrido após 18 anos de acolhimento institucional, como um "verdadeiro milagre".
Ela faz questão de destacar a importância do suporte institucional para a concretização da adoção.
A servidora ressalta que o juiz da 2ª Vara Cível da Comarca de Patrocínio, Gustavo Obata Trevisan, à época coordenador do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc) da Comarca de Arinos, juntamente com equipe do Serviço Social e da Secretaria do Juízo, formou uma rede de apoio que demonstrou grande sensibilidade e empatia.

"Graças a esse compromisso, Gabriel pôde realizar seu maior sonho: ter um lar, uma família. Cada gesto e cada providência foram elos de uma corrente de amor que transformou sua vida", diz Deuseni Santana.
Para o juiz Gustavo Trevisan, que conduziu o processo de adoção de Gabriel, o final feliz do caso trouxe satisfação e alívio, pois simbolizou o fim de uma espera que parecia interminável.
"Depois de quase seis anos em Arinos, acompanhei a situação de Gabriel se repetir nas audiências concentradas, ano após ano, e não havia mais o que a pudesse ser feito. Por isso, assinar sua adoção foi um momento de profunda realização. Ver uma história que parecia fadada a se perpetuar nas instituições de acolhimento ter um desfecho tão bonito é motivo de felicidade e esperança. Sinto-me grato por, com a equipe, termos conseguido viabilizar este sonho, dando a Gabriel uma família e devolvendo a ele a esperança que parecia perdida."
Para Deuseni Santana, a adoção de Gabriel representa a esperança de que outras crianças e adolescentes em situação de acolhimento, independentemente da idade ou da condição de saúde, também possam encontrar um lar.
Ela destaca ainda que "o gesto do casal exige coragem, dedicação e amor, mas a família recebe em troca um coração inteiro que transborda amor".
Nesse mesmo sentido, a assistente social judiciária Fátima Valadares reforça a importância de se divulgar a história de Gabriel como uma referência, visando incentivar esse tipo de adoção nos grupos de apoio e em cursos de preparação.
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