Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

Judiciário faz doação de cobertores para a Pastoral da Rua

Campanha interna mobilizou magistrados e servidores


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Numa roda de conversa, estavam estudantes, agentes sociais, magistrados, pessoas com trajetória de rua, servidores públicos e religiosos. Cada um falou seu nome e, quando quis, relatou um pouco da sua história. A reunião, que acontece todas as quintas-feiras na Rua Além-Paraíba, no Bairro Lagoinha, teve uma motivação especial hoje, 21 de junho: representantes do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) estiveram presentes para entregar à Pastoral de Rua de Belo Horizonte 205 cobertores arrecadados em uma campanha interna no Judiciário. Parte do material começou a ser distribuído ali mesmo para pessoas que estão em situação de vulnerabilidade ou aquelas que, mesmo no inverno, moram nas ruas da capital.

 

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Representantes do TJMG participaram de roda de conversa, que reuniu público diverso

 

Admirados com a presença de dois magistrados pela primeira vez na roda de conversa – o desembargador Edison Feital Leite e o juiz Sérgio Henrique Cordeiro Caldas Fernandes –, os beneficiados pela doação aproveitaram para fazer perguntas, expor ideias e mostrar que a aproximação do Judiciário é bem-vinda.

 

O desembargador Edison Feital Leite, presidente da 1ª Câmara Criminal do TJMG, aproveitou a oportunidade para responder as perguntas e esclarecer alguns assuntos apresentados pelos participantes. Também contou um pouco da sua história e relatou que a campanha de arrecadação de cobertores começou depois de uma conversa entre desembargadores, num dia frio, enquanto tomavam café. “Todos os desembargadores fizeram questão de participar. Não estamos distantes da comunidade. Só seremos felizes quando todas as pessoas recuperarem sua dignidade e suas referências”, afirmou.

 

Mobilização

 

O magistrado afirmou que a campanha foi uma forma de abrir os olhos para os menos favorecidos e disse que essa pode ser a primeira de outras iniciativas. “Fiquei surpreso em ver cada um contando sua história. Isso é bom. O juiz não pode viver isolado”, lembrou. O desembargador esteve na reunião representando o Judiciário e os demais magistrados que fizeram doações.

 

A arrecadação dos cobertores, realizada pela primeira vez no TJMG, mobilizou magistrados e servidores. Com intermediação das equipes do Núcleo de Voluntariado e do projeto Rua do Respeito, ambas iniciativas do Tribunal mineiro, foi feito o contato com a Pastoral de Rua para a entrega dos cobertores. A ideia é que essa ação, de cunho emergencial por causa do tempo frio, seja repetida e ampliada nos próximos anos, contribuindo com o trabalho de abordagem feito pelos voluntários da pastoral. Apesar da distribuição de cobertores, agasalhos e alimentação, o trabalho vai além e pretende devolver a cidadania e a dignidade a esse público, criando oportunidades para que deixe as ruas.

 

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Campanha interna no TJMG garantiu a arrecadação de 205 cobertores, entregues hoje

 

O padre Júlio César Gonçalves Amaral, vigário episcopal para Ação Social e Política da Arquidiocese de Belo Horizonte, explicou que o mais importante no trabalho com as pessoas em situação de vulnerabilidade é a aproximação. “O cobertor aquece e o relacionamento nos permite ser sensibilizados para essa realidade”, disse. A irmã Cristina Bove, que integra a Pastoral Nacional do Povo da Rua, diz que a situação no País é cada vez mais grave. Levantamentos recentes, segundo ela, apontam cerca de 30 mil pessoas vivendo nas ruas de São Paulo e 8 mil nas do Rio de Janeiro.

 

Desafios

 

“Em Belo Horizonte, estamos falando de 5 mil pessoas vivendo nas ruas. O maior desafio é garantir o acesso às políticas públicas, sobretudo às que garantem o acesso à moradia. Uma casa é sinônimo de descanso e proteção”, lembra. A religiosa acredita que a parceria com o Judiciário traz uma contribuição importante. Os cobertores doados suprirão uma demanda imediata e emergencial. “Em longo prazo, abrimos uma porta que pode melhorar o acesso desse público à Justiça. Foi aberto um caminho para o diálogo, que ajudará no resgate da dignidade dessas pessoas”, aposta.

 

Claudenice Rodrigues Lopes, supervisora de projetos da Pastoral de Rua da Arquidiocese de Belo Horizonte, explica que algumas entidades e pessoas da sociedade civil se sensibilizam nessa época do ano fazendo doações, o que auxilia no atendimento emergencial. Os materiais arrecadados – cobertores, luvas, meias, gorros – são distribuídos pela pastoral, no Bairro Lagoinha, e também pela equipe que percorre as ruas da capital três vezes por semana. “Estamos falando de solidariedade. A partir do contato para distribuir agasalhos, contudo, os doadores podem conhecer a realidade de quem mora na rua, um cenário para o qual nem sempre estamos atentos”, diz.

 

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Cobertores foram doados a pessoas em situação de vulnerabilidade ou com trajetória de rua

 

O esforço das equipes de atendimento da pastoral rende frutos que, muitas vezes, significam a valorização da vida e a devolução da dignidade às pessoas. Elisângela Cândido da Silva Delfino, de 41 anos, viveu 20 anos nas ruas. “Minha família era desestruturada. Vi de tudo na rua. Achei que nunca conseguiria sair dessa vida. Tenho no meu corpo as marcas de 15 facadas, agressão que recebi por reagir e não permitir um estupro”, conta. A vida mudou após as repetidas tentativas das equipes da pastoral de ganhar sua confiança.

 

Ideias

 

“A irmã ficava me rodeando, tentando conversar. Um dia decidi ver o que iriam me propor. A partir desse contato, a pastoral me ajudou e saí da rua. Eles me disseram que eu podia e que eu conseguiria mudar de vida. Eles colocaram outras ideias na minha cabeça, coisas que eu nunca tinha pensado”, descreve. Primeiramente, Elisângela recebeu auxílio-moradia para pagar o aluguel, depois recebeu uma bolsa-aluguel. Por fim, foi contemplada com um apartamento no Bairro Camargos.

 

Atualmente empregada como agente social, ela diz que olha para trás e custa a acreditar que conseguiu deixar as ruas. “Acho que uma pequena ideia nos ajuda a ter ideias enormes. Com a ajuda do Judiciário, podemos fazer progressos. Essa semente, que começou com a doação de cobertores, pode virar uma árvore. Temos muitas expectativas”, revela Elisângela, orgulhosa com o rumo que a vida tomou.

 

Além dos magistrados, participou da roda de conversa a diretora da Secretaria de Suporte ao Planejamento e à Gestão da Primeira Instância (Seplan), Mônica Alexandra de Mendonça Terra e Almeida Sá, integrante do Núcleo de Voluntariado do TJMG.

 

Iniciativas

 

O Núcleo de Voluntariado do TJMG foi instituído com o objetivo de contribuir para a consolidação da Rede de Voluntariado do Estado de Minas Gerais, promover a disseminação da cultura do voluntariado no Poder Judiciário mineiro e coordenar as práticas de voluntariado no âmbito do TJMG. O núcleo é presidido pelo desembargador Manoel dos Reis Morais.

 

Já o projeto Rua do Respeito procura dar efetividade a políticas públicas e ações sociais voltadas para a população de rua. As ações do projeto são executadas a partir de uma cooperação técnica entre o TJMG, o Ministério Público e o Serviço Voluntário de Assistência Social (Servas), entre outras entidades. A parceria pretende garantir o acesso a direitos, como moradia e trabalho, e à saúde, além de combater o preconceito.

 

Quem quiser fazer doações pode entrar em contato com a pastoral pelo telefone: (31) 3428-8366.

 

Veja mais fotos desse evento no Flickr TJMG. 

 

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