"É uma oportunidade incrível de vivenciar em instantes a situação como um todo, levando em conta o ponto de vista do outro, deixando de lado todas as diferenças em função de um objetivo em comum. Precisamos olhar para a situação abandonando mágoas e ressentimentos e focando nas crianças, que são as principais interessadas." O trecho acima é o depoimento de um pai sobre a experiência de passar pela técnica da constelação sistêmica. A metodologia está sendo adotada nas três varas de família e sucessões da Comarca de Contagem na solução de conflitos em processos de família.

Disputando a guarda de seu filho com a mãe da criança, o pai do testemunho acima era um dos protagonistas de um processo complexo. Os genitores denunciavam-se mutuamente por maus-tratos contra o menor, e o diálogo construtivo entre eles havia se tornado impossível. Durante uma primeira audiência de conciliação entre as partes, a juíza da 1ª Vara Cível da comarca, Christiana Motta Gomes, percebeu "as feridas sangrando", e avaliou que um acordo era algo improvável no horizonte daquele processo.

"Era urgente definir quem seria o guardião – o pai ou a mãe –, e, com isso, fixar-se a questão de visitas e alimentos. Era um processo muito delicado e tendente para a não composição, pois os dois genitores queriam para si a guarda do filho", lembra a magistrada. Nesse contexto desafiador, a juíza recorreu a uma metodologia inovadora no universo da Justiça: a dinâmica das constelações familiares, que passaram a ser adotadas nas varas de família de Contagem em maio deste ano, com a participação da consteladora Andréa Evaristo Coelho Rocha.

Assim, com a concordância das partes, o processo foi encaminhado para uma sessão de constelação, com data e horários pré-definidos, e as partes se submeteram à técnica. Uma segunda audiência de conciliação já estava marcada para depois da experiência, e o resultado foi o improvável acordo, que colocou fim ao processo e, mais que isso, apaziguou dores e angústias. Histórias com finais animadores como esse, após as partes participarem de sessões de constelação, enchem de entusiasmo os magistrados de Contagem – além da titular da 1ª Vara, os juízes Daniela Nacif de Sousa (2ª Vara) e Ricardo Vianna Costa e Silva (3ª Vara) –, que apostam na técnica como caminho para a conciliação em processos de família com alto grau de litigiosidade.

Realidade dos processos

A técnica sistêmica da constelação familiar foi idealizada pelo professor, pedagogo e psicólogo alemão Bert Hellinger e trazida para a realidade dos processos judiciais pelo juiz Sami Storch, do Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA). Em Contagem, a metodologia foi inserida como desdobramento da audiência de tentativa de conciliação. "Fizemos algumas adaptações da técnica para a realidade de Contagem. Aqui, o magistrado não participa da sessão de constelação; participam apenas as partes, seus procuradores, a consteladora e representantes voluntários. Tudo é feito sob o signo do sigilo e da proteção à intimidade dos envolvidos", explica a magistrada.

A formatação dada por Contagem para a técnica sistêmica observa os ritos processuais e a exigência do novo Código de Processo Civil quanto à imprescindibilidade da conciliação/mediação. De acordo com a juíza, para a implementação da técnica na comarca tem sido imprescindível a consteladora Andréa, que atua como voluntária – ela é formada em Direito e possui formação em constelação sistêmica – e os representantes, pessoas que participam da dinâmica da constelação também como voluntários. Os representantes atuam como personagens da vida da pessoa constelada. Em Contagem, a quase totalidade deles compõe-se de advogados.

A magistrada Christiana observa que a técnica da constelação familiar não exclui a mediação e a conciliação e tem o condão de curar. "É importante que o juiz tenha conhecimentos básicos sobre a técnica e, diante de um processo onde verifica que não há acordo de jeito nenhum, essa possibilidade é oferecida às partes, durante uma primeira audiência de conciliação. As partes saem dali com a sessão de constelação e uma segunda audiência de conciliação já marcadas", acrescenta.

Campo de memória

A consteladora Andréa Evaristo explica que a técnica sistêmica é uma metodologia terapêutica que tem como base a força do sistema familiar na formação e nos comportamentos de cada indivíduo. "Herdamos dos nossos antepassados muito mais do que os traços físicos", observa. A prática da constelação busca acessar essas energias inconscientes que interferem nos comportamentos, e isso permite à pessoa constelada uma compreensão mais ampla da situação/problema, dos seus próprios sentimentos e das emoções das demais pessoas que estão inseridas naquele contexto. A vivência pode permitir, assim, que as partes se abram para o diálogo, com vistas a pôr fim ao conflito.

"Nos casos de disputa de guarda de filhos, por exemplo, muitas vezes os pais estão em um verdadeiro cabo de guerra. Eles sabem que as crianças estão sofrendo, mas quando veem isso representado, durante a constelação familiar, é diferente", explica a consteladora. Segundo ela, normalmente os genitores ficam muito emocionados, e a metodologia atua de forma a permitir uma reconciliação e um reordenamento das relações. "Por isso, as constelações costumam ser muito densas e muito emocionantes. Campos de memória são acessados, e tudo é feito com total sigilo e sem julgamento", indica a terapeuta. Em Contagem, as partes em conflito participam das sessões de constelação separadamente.

Para a juíza Christiana, a constelação sistêmica revela-se uma modalidade de conciliação "que se alinha aos princípios da pacificação e se encaixa de forma adequada aos procedimentos judiciais". Ela acrescenta: "Especificamente no caso de conflitos de família, a clareza trazida aos envolvidos transcende o processo e contribui em espectro muito mais amplo para a restauração dos sistemas familiares, pois alcança sistemas universais. A constelação se mostrou pertinente em casos altamente litigiosos e permitiu uma mudança de consciência que permite o deslocamento da visão do conflito para a da concordância".

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