Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

Campanha do TJMG arrecada mais de 560 cobertores

Parte das doações, destinadas à população em situação de rua, foi entregue hoje


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A entrega de parte das doações aconteceu na manhã desta sexta-feira, 5 de julho, na Pastoral de Rua da Arquidiocese de Belo Horizonte, Bairro Lagoinha

“Queremos agradecer a mobilização de vocês, que são pessoas sensíveis. Mas há muitos insensíveis por aí e, enquanto a população de rua aumenta, as políticas públicas voltadas para esse público diminuem. Essa é uma população invisível, por isso é muito bom perceber que existem pessoas que as enxergam com outro olhar. Que vocês se tornem multiplicadores.”

A manifestação, do ex-morador de rua Rafael Roberto Fonseca da Silva, integrante do Movimento Nacional da População em Situação de Rua (PSR), foi dirigida a um grupo de representantes do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) que esteve na manhã desta sexta-feira, 5 de julho, na Pastoral de Rua da Arquidiocese de Belo Horizonte, para a entrega de cobertores da campanha “O inverno não é tão frio quando existe solidariedade”.

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A  desembargadora Maria Luíza de Marillac (3ª à esquerda), presidente do Núcleo de Voluntariado do Judiciário estadual, destacou o caráter solidário da iniciativa

Um total de 565 cobertores foi arrecadado durante a iniciativa, realizada pelo Judiciário estadual por meio de seu Núcleo de Voluntariado. A entrega de parte dessa doação aconteceu durante uma roda de conversa que reuniu integrantes de movimentos em prol da PSR, voluntários, magistrados e servidores do Tribunal mineiro e pessoas que, no momento, enfrentam a realidade de não ter um teto sob o qual viver. 

A desembargadora Maria Luíza de Marilac, presidente do Núcleo de Voluntariado, manifestou a alegria de participar daquele momento. “A solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito à dignidade da pessoa humana. Esta campanha é um gesto de solidariedade emergencial, em uma tentativa de aplacar um pouco o sofrimento pelo qual passam as pessoas que vivem nas ruas”, disse.

Para a magistrada, mais do que a questão material, o que se busca com a doação dos cobertores é aproximar o Judiciário mineiro dessa realidade. “É importante dar voz a essas pessoas, acolhê-las. O que ouvimos aqui, hoje, foi muito importante para entender como podemos contribuir mais. Precisamos ouvir o outro e nos colocar no lugar dele”, ressaltou.

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Uma roda de conversa reuniu representantes do TJMG, membros de movimentos da população em situação de rua e pessoas que estão enfrentando essa realidade

Combate à invisibilidade

O juiz Sérgio Henrique Cordeiro Caldas Fernandes, da 23ª Vara Cível da Comarca de Belo Horizonte, e também membro do Núcleo de Voluntariado, observou que “a realidade das pessoas em situação de rua é multifacetada”. Assim, uma forma de se enfrentar essa realidade é por meio “do combate à invisibilidade”. 

Na avaliação do magistrado, o gesto de ajudar quem está sofrendo nas ruas é importante, em especial nesta época do ano, em que os termômetros registram as mais baixas temperaturas. “Para nós, pode ser algo distante, mas um cobertor pode significar a diferença entra a vida e a morte para uma pessoa em situação de rua”, disse.

Mas, para além dessa ajuda pontual, o juiz destacou a importância da mobilização voluntária e solidária dos membros do Tribunal de Justiça em torno do tema. “Conhecer essa realidade é a melhor forma de tentar trabalhar esse cenário, a fim de modificá-lo”, declarou.

Também presente durante a entrega das doações, a juíza Cláudia Helena Batista, da 1ª Vara Empresarial da capital, integra o programa Rua do Respeito, assim como o juiz Sérgio Fernandes. O Rua do Respeito visa a dar efetividade a políticas públicas e ações sociais voltadas para a população de rua e reúne, além do TJMG, diversos outros parceiros.

Durante a roda de conversa, a juíza afirmou que é preciso uma mudança de cultura, para que a sociedade se sensibilize com essa causa – um movimento de quebra de resistência que envolve também o Judiciário mineiro. “Esse é um processo que leva tempo, porque há uma distância entre o que desejamos realizar e o que efetivamente conseguimos”, frisou.

A servidora da Escola Judicial Desembargador Edésio Fernandes (Ejef) do TJMG, Mônica Sá, acrescentou que o cobertor não resolve a complexidade dos problemas enfrentados pela população em situação de rua, mas ajuda a minimizar o desconforto do frio nesta época do ano. 

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Ex-morador de rua, Rafael Roberto Fonseca da Silva, que integra o Movimento Nacional da População em Situação de Rua,ressaltou a importância da campanha

Desafios e esperança

Rafael da Silva, cuja fala abre esta matéria, viveu 12 anos nas ruas. Hoje, além de hoje atuar tentando resgatar a vida de outras pessoas que vivem essa realidade, ele integra o conselho municipal de segurança alimentar e nutricional da capital, tem moradia própria e conseguiu reatar laços familiares desfeitos durante a trajetória nas ruas.

Aos representantes do Tribunal mineiro, ele relatou dois dos principais desafios com que esse público atualmente se depara: a retirada de seus pertences por agentes da Prefeitura de Belo Horizonte e a falta de acesso ao restaurante popular nos feriados e finais de semana.

“A questão do recolhimento dos pertences é muito grave, pois é uma agressão moral, muitas vezes acompanhada da agressão física. Quem está nas ruas já vive uma situação fragilizada e, de repente, se vê sem cobertores e documentos, seus únicos bens. E há uma decisão do TJMG proibindo a apreensão dos pertences, sob pena de multa”, afirma.

Entre outros pontos, ele comentou que o aumento do desemprego está levando mais pessoas para as ruas, e o que número de mulheres nessa situação está crescendo. “Mas há apenas um abrigo para elas, que vivem ainda o drama de verem seus filhos retirados, por causa da realidade em que se encontram”, contou.

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Samuel Rodrigues, também ex-morador de rua e integrante do Movimento Nacional da População de Rua: "O cobertor faz toda a diferença neste momento”

Depois de viver 13 anos nas ruas, Samuel Rodrigues, também integrante do Movimento Nacional de População em Situação de Rua, destacou o aumento das agressões contra moradores de rua. “É tenso viver nas ruas, as pessoas têm medo. De janeiro a junho, foram registrados 23 casos de violência; no mesmo período, neste ano, já foram 53 casos, um aumento de mais de 100%”, indicou.

Além de pedir apoio do Judiciário mineiro para a questão, Samuel declarou que a campanha do TJMG é uma demonstração de solidariedade “que soma muito” para quem está na rua, desprovido de tudo. “Em pleno inverno, a pessoa está entregue ao relento, vivendo uma cidade que tem apenas mil vagas de acolhimento e um número muito maior de pessoas na rua. O cobertor faz toda a diferença neste momento”, concluiu.

Ouça o podcast com as entrevistas:

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