Não é novidade que a música tem um efeito notável sobre crianças e adolescentes. Por saber disso é que a Coordenadoria da Infância e da Juventude (Coinj) do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) vem oferecendo oportunidades a quase 200 alunos de musicalização infantil, coral e instrumentos. Mas o que existe na arte dos sons que a faz tão transformadora?
Para Moisés Guimarães, que dá aulas de violino e viola no projeto social da orquestra infantojuvenil, a música exige dedicação e disciplina. “Cada instrumento de corda tem suas características, mas a técnica básica é a mesma. De qualquer forma, pelo menos com o violino, o som produzido por um iniciante costuma ser rudimentar, como o barulho de um pernilongo”, afirma o músico, com bom humor.
Por essa razão, a aptidão está mais na força de vontade do que na facilidade motora ou na musicalidade. A capacidade de ouvir o colega, de perceber o que se passa ao redor, a curiosidade de conhecer novas sonoridades são bons indicativos de talento. “Alguns meninos só aos poucos tomam consciência de que são especiais, mas isso muda completamente a maneira de eles encararem a vida”, conta Moisés.
O professor esclarece que a música, além de estimular a expressão e a postura, trabalha com uma série de conceitos matemáticos, o que ajuda a organizar o raciocínio e melhora o aprendizado de modo lúdico. Esse é o caso da divisão do tempo em figuras rítmicas que representam durações distintas de notas ou pausas e das relações de proporções, da organização da escala em grupos de sete notas, da leitura de partituras, que são um código visual.
Música em conjuntos
Outro aspecto destacado pelo professor é que a música consiste em um fenômeno social, que promove a interação entre as pessoas. “Tocamos ou cantamos sempre para alguém. A situação de estar diante do público é sem dúvida estressante, mas o estudante pode ser treinado para lidar com ela. Tocando em um grupo, a pressão é menor, porque nos sentimos apoiados”, explica. Conquistas desse tipo, garante o músico, servirão em experiências futuras, como uma entrevista de emprego.
O segredo para que ninguém desanime se baseia em alguns pilares: integrar os alunos a um coletivo, onde todos se sintam importantes e do qual mesmo os que estão começando possam participar; distribuir tarefas conforme as capacidades de cada aluno; escolher um repertório que concilie a tradição clássica com o interesse e o universo musical dos aprendizes; ganhar a confiança dos alunos, não ser bravo ou sisudo demais; respeitar o tempo de cada um.
Graduado em viola pela Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais (EM-UFMG), Moisés Guimarães é docente do curso de licenciatura em música da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) desde 2006. Membro da Orquestra Sinfônica da EM-UFMG desde 1985, vem ensinando viola e violino no Sesiminas desde 1987 e atuou na Escola de Formação de Instrumentistas de Cordas do Sesi Mariana como professor e como regente da Orquestra Jovem, de 2009 a 2013.
Violinista a caminho
Camila Fernandes, de 16 anos, tem apenas um mês de estudo, mas não vê a hora de tocar com as irmãs Priscila, de 18, e Rafaela, de 15. As duas primeiras são violinistas (a mais velha, já há um ano) e a caçula do trio aprende contrabaixo acústico. Elas têm mais dois irmãos menores, de 12 e 4 anos. Ainda ressabiada, Camila responde com monossílabos ou frases curtas perguntas sobre seu hábito de ouvir rádio e suas habilidades para ler a pauta musical, mas sabe muito bem a peça que mais quer tocar: o balé “O Lago dos Cisnes”, do compositor russo Piotr Ilitch Tchaikovski.
Leia notícias anteriores sobre a Cantata de Natal que as crianças e os adolescentes do Coral e da Orquestra Infantojuvenil da Coinj estão se preparando para apresentar em 9 de dezembro, às 20h, no Palácio da Justiça, e conheça outros projetos da Coinj.
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