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07/06/22 07:19

Plural Especial Novos Rumos nº 3: PAI-PJ

Junto ao Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário (GMF) e à Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac), o Programa de Atenção Integral ao Paciente Judiciário Portador de Sofrimento Mental (PAI-PJ) é um dos eixos do Programa Novos Rumos, iniciativa do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, criado há duas décadas. Em 2021, o PAI-PJ chegou também aos 20 anos de existência com excelentes resultados, tendo se tornado referência nacional e internacional no aprimoramento da reinserção social de pacientes judiciários.
 
 

Com uma equipe composta por psicólogos, assistentes sociais e bacharéis em direito, todos devidamente capacitados, o PAI-PJ atua no acompanhamento de pessoas em situação de sofrimento psíquico que tenham cometido algum crime. A intervenção do programa junto aos pacientes infratores é determinada por juízes das varas criminais, que, auxiliados por uma equipe multidisciplinar, podem definir qual a melhor medida judicial a ser aplicada, com a intenção de conjugar tratamento, responsabilidade e inserção social, levando em conta os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais previstos na Lei 10.216/2001.

Por meio da atuação dos profissionais do programa, os pacientes judiciários são encaminhados para os dispositivos de tratamento das redes de saúde mental disponíveis no local onde moram, de preferência perto de suas famílias.
 
 

A proposta é o acolhimento e o auxílio no acesso aos recursos apropriados para a construção de laços sociais, conforme a singularidade de cada caso.

Algumas das atuações do PAI-PJ são efetivadas em conjunto com o Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário (GMF), como a operação realizada junto ao Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico Jorge Vaz em Barbacena, em dezembro de 2020. Na ocasião, juízes e assessores reviram dezenas de processos de pacientes judiciais que cumpriam medidas de segurança internados no hospital. A cooperação desses dois segmentos do Programa Novos Rumos resultou em várias liberações para o convívio dessas pessoas com suas famílias ou em residência terapêutica.
 
 
 

Foram 99 processos analisados pela cooperação dos juízes do GMF. Do total, houve 42 decisões para desinternação com acolhimento familiar; 36 para desinternação com acolhimento do serviço de residência terapêutica, em vagas liberadas pelo município ou pelo Estado; um processo com desinternação e acolhimento no asilo da Comarca de Divino; 12 decisões pela manutenção da internação no hospital com projeto terapêutico singular; e um processo extinto devido ao falecimento da paciente. E ainda foram movimentados mais sete processos com mero expediente para nova perícia.

A cooperação também resultou em tratativas para a criação de novas residências terapêuticas para abrigar pacientes judiciais transferidos do Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico Jorge Vaz, entre outras iniciativas.

A coordenadora-geral do PAI-PJ, desembargadora Márcia Milanez, afirma que tal cooperação foi a maior ação concentrada de desinternação acompanhada em hospital de custódia do país.

 

 

 

“Temos atuado na expansão dos núcleos regionais do PAI-PJ para permitir a efetiva atenção singular no território respectivo do paciente e contemplar um número cada vez maior de pessoas. O último núcleo regional foi implantado em Muriaé, em fevereiro de 2022, e estamos trabalhando na criação de novos núcleos”, disse a desembargadora.

Em 2022, os núcleos regionais do PAI-PJ ultrapassaram, juntos, a faixa de mil pacientes acompanhados por mês, configurando-se como o maior programa de atenção integral dedicado ao paciente judiciário no Brasil — sem perder sua principal característica: a abordagem singular e individualizada de cada pessoa acolhida pela iniciativa.

Mapa mostrando os núcleos regionais do PAI-PJ Belo Horizonte, Juiz de Fora, Muriaé, Barbacena, Itaúna, Alfenas, Governador Valadares e Teófilo Otoni.
 
 
 
 
 

Acompanhe a entrevista com a paciente judiciária Rosilene Moreira.

 

 

 

O PAI-PJ surgiu de uma pesquisa realizada em 1999, com estagiários do curso de Psicologia do Centro Universitário Newton Paiva, coordenada pela psicanalista e psicóloga judicial do TJMG Fernanda Otoni.
 
 
 
 

Conheça a pesquisa “Por uma política de atenção integral ao louco infrator”: https://www.tjmg.jus.br/data/files/41/A7/51/FD/204636104C5F1436B04E08A8/livreto_pai.pdf.

A partir do levantamento, a equipe analisou processos em que autores de crimes, depois de passarem por perícia médica, foram diagnosticados como portadores de sofrimento mental. Em 2000, um projeto-piloto, aprovado pelo TJMG, conferiu à experiência o status de programa e ampliou o campo de assistência aos pacientes judiciários.

Confira o que diz a psicóloga coordenadora do PAI-PJ, Romina Magalhães.

 

 

 

Ao acompanhar o paciente judiciário em todas as fases do processo criminal, o programa busca garantir os direitos fundamentais e sociais previstos na Constituição de 1988, considerando a responsabilidade do indivíduo quanto ao seu ato e a sua capacidade de estabelecer laços sociais.

Confira a entrevista com o paciente judiciário Anderson Francisco Porto, estudante de Serviço Social.

 

 

 

1.Elaborar o plano de atenção integral de cada caso a partir de entrevistas com o paciente judiciário, estudo dos autos e contato e discussão com equipes da rede pública de saúde e da rede social responsáveis pela condução do tratamento do paciente judiciário. 2. Encaminhar o paciente judiciário à rede pública de assistência em saúde mental e/ou aos serviços disponíveis na rede da cidade especializados em assistência social, orientação e atenção jurídica e outros que sejam necessários. 3. Acompanhar o caso nos âmbitos clínico (contato e discussões permanentes com a rede pública de saúde); social (contato permanente com família, amigos, relações de trabalho e instituições, visando a promoção social, a autonomia e a efetivação das políticas públicas sociais para o paciente); e jurídico (relatórios e pareceres para a autoridade judicial, acompanhamento do movimento processual e do paciente em suas audiências, contatar advogado ou defensor público, encaminhar promoção ao juiz competente). 4. Realizar reuniões sistemáticas de acompanhamento do caso, visando novas ações que orientem a atuação clínica. 5. Reunir-se periodicamente com peritos oficiais, apresentando os dados relativos ao acompanhamento do caso, fazer reuniões após a realização de perícias de sanidade mental e cessação de periculosidade e também antes da elaboração de laudos. 6. Encerrar o acompanhamento do caso, zelando, sempre que possível, pela efetividade da promoção da inserção social do paciente judiciário e realizar entrevistas com o paciente judiciário para conclusão, desde que verificada a efetivação de sua inserção social.
 
Por meio do trabalho desenvolvido ao longo dos últimos anos, o PAI-PJ tem conseguido romper com sucesso, nos casos em que atua, a cultura de segregação social que costuma acompanhar pacientes judiciários com sofrimento psíquico.
 
 
 

Os resultados obtidos pelo programa permitiram repensar o mito da periculosidade que envolve a antiga nomeação de “doente mental”. O índice de reincidência dos atendidos é em torno de 2%, em crimes de menor gravidade. Nenhum dos pacientes atendidos pelo PAI-PJ e condenados pela prática de crimes violentos voltou a cometer tais atos.

Em 2010, pela sua relevância na área criminal, o PAI-PJ passou a integrar o Programa Novos Rumos do TJMG. Com a palavra, Romina Magalhães.

 

 

 

Com duas décadas de funcionamento, o PAI-PJ vem ganhando destaque nacional e internacional. O programa serviu de base para um projeto semelhante, dos ministérios da Justiça e da Saúde, sendo inicialmente implantado em Goiânia/GO, em outubro de 2006, como Programa de Atenção Integral ao Louco Infrator (PAI-LI), e posteriormente em Porto Alegre/RS, com o nome Desmedida, em 2014.

Em 2006, o programa foi apresentado no Fórum Social Europeu, realizado na Grécia. Dois anos depois, as experiências dos programas do Brasil, Itália, França e Suíça foram apresentadas no Encontro Internacional sobre a Questão da Periculosidade, na França. E, em 2009, o PAI-PJ recebeu o PrêmioNacional de Cidadania com Segurança e Direitos Humanos, na Conferência Nacional de Segurança Pública, realizada em Brasília, classificado em primeiro lugar.

Em 2011, o Conselho Nacional de Justiça, reconhecendo o alcance das ações do PAI-PJ e sua contribuição para reorientar o modelo de atenção ao paciente judiciário, recomendou a aplicação de seus princípios e metodologia a todos os Tribunais de Justiça do Brasil, conforme o voto do conselheiro relator, Walter Nunes da Silva Júnior, na Recomendação 35/CNJ/2011.
 
 
Desde a implantação, já passaram pelo programa mais de 6 mil pacientes. Desses, quase 5 mil casos já foram arquivados. Atualmente são atendidos 1.130 pacientes judiciários, sendo que a maioria cumpre a medida de segurança em casa, junto de seus familiares, trabalhando e/ou estudando.
 
 
Para agilizar a execução de medidas de segurança e seus incidentes e promover a cooperação no processamento de tais procedimentos, nas unidades judiciárias da justiça de primeiro grau de Minas Gerais, está em funcionamento, desde março de 2022, a Central de Execução de Medidas de Segurança 4.0 (CEMES) do TJMG, com sede em Belo Horizonte, conforme a Portaria Conjunta 1.339/PR/2022.
 
 

Os processos de execução de medidas de segurança e seus incidentes tramitam pelo Sistema Eletrônico de Execução Unificado (SEEU), em conformidade com as diretrizes do Núcleo de Justiça 4.0 e do projeto Juízo 100% Digital, observadas as disposições da Lei Federal 11.419/2006, sobre a informatização do processo judicial, e do Provimento 355/2018 da Corregedoria-Geral de Justiça de Minas Gerais.

O atendimento das partes e dos advogados prioriza o uso do Balcão Virtual, mas abrange, ainda, outros meios eletrônicos, como e-mail, telefone ou aplicativo de mensagens instantâneas, chamadas de vídeo ou de voz. O magistrado atende os advogados mediante agendamento, cuja solicitação deve ser formulada pelo sistema Balcão Virtual, dando-se preferência aos atendimentos de urgência.

Conheça a revista Responsabilidades.
 
 

Publicada entre 2011 e 2014, a revista Responsabilidades, editada pela equipe do PAI-PJ, apresenta uma visão interdisciplinar relativa à problemática da criminalidade e sua relação com o sistema de justiça, em artigos sobre os paradigmas, ideologias, práticas e discursos de diversos setores sociais.

Todas as edições da revista Responsabilidades estão disponíveis na Biblioteca Digital do TJMG. Foram oito edições nos meses de março e setembro de 2011, 2012, 2013 e 2014. https://bd.tjmg.jus.br/jspui/handle/tjmg/577. O PAI-PJ fica na rua Timbiras, 1.802, Centro, Belo Horizonte/MG. Telefone: (31) 3207-5200
 
 
 
 

EXPEDIENTE:

Gerente de Imprensa: Maria Clara Prates / Coordenador de jornalismo: Evaldo Fonseca Magalhães / Reportagem: Soraia Costa / Ilustrações: Pedro Moreira / Webdesign: Thiago Rique / Fotografia e imagens de vídeo: Paulo Pires e Augusto Brasil / Edição de vídeo: Wilson Reynaud / Edição de web: Mariana Silveira / Revisão de texto: Patricia Limongi

Produzido pela Diretoria Executiva de Comunicação – Dircom
Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Veja as Edições Anteriores

O Programa de Atenção Integral ao Paciente Judiciário Portador de Sofrimento Mental (PAI-PJ) é um dos eixos do Programa Novos Rumos, e chega aos 20 anos de existência com excelentes resultados, tendo se tornado referência nacional e internacional no aprimoramento da reinserção social de pacientes judiciários.
Mulheres e jovens cumprindo suas penas e medidas socioeducativas de forma humanizada em unidades da Apac femininas e juvenil. Conheça como acontece o processo de ressocialização de pessoas que infringiram a lei.
O programa desenvolve ações em favor da humanização no cumprimento de penas e medidas de restrição de liberdade, visando à ressocialização. Conheça a atuação do GMF, um dos segmentos do Novos Rumos.