Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

Expert apresenta novos modelos de negociação

Um dos maiores especialistas na área, ele vai ministrar curso no TJMG focando desastres ambientais


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Diante de uma situação grave, paralisia e pânico podem tomar conta dos envolvidos. Contudo, a clareza é essencial, pois só compreendendo bem um problema se pode chegar à solução. Essa foi uma das reflexões de Yann Igor Pierre Georges Duzert, consultor e autor de 17 livros sobre negociação, em entrevista ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG).   

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Yann Duzert é consultor de renome internacional, professor e pesquisador em negociação (Foto: MP/GO)

O facilitador estará em Belo Horizonte na sexta e no sábado, para o Curso em Capacitação em Negociação em Causas Complexas, oferecido em parceria pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e pelo Judiciário estadual mineiro. Serão capacitadas 40 pessoas, entre integrantes do Poder Judiciário e do Ministério Público que atuam nas esferas estadual, federal e do trabalho.

Trata-se da primeira ação prática do Observatório Nacional sobre Questões Ambientais, Econômicas e Sociais de Alta Complexidade e Grande Impacto e Repercussão, instituído por meio de portaria conjunta do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Veja notícia.

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A barragem de Fundão, no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, desabou em novembro de 2015

A finalidade da vinda de Yann Duzert, expert mundial em negociações ambientais, é subsidiar os magistrados de ferramentas úteis para o julgamento de causas de repercussão social e elevada complexidade. 

Consultor de renome internacional, professor e pesquisador, Duzert é doutor em Gestão do Risco da Informação da Decisão, pela École Normale Supérieure de Cachan/École Polytechnique de Paris, e tem pós-doutorado em Gestão de Conflitos na Área Ambiental, pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT). 

Duzert é também CEO da Newgotiation/Temperance Ltda. e professor associado coordenador de cursos preparatórios para Doctorate in Business Administration (DBA) na Fundação Getúlio Vargas (FGV/RJ) e na Rennes School of Business.

Observatório Nacional

A criação do Observatório Nacional sobre Questões Ambientais, Econômicas e Sociais de Alta Complexidade e Grande Impacto e Repercussão ocorreu em 31 de janeiro e foi assinada pelos presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF) e do CNJ, ministro Dias Toffoli, e do CNMP, a procuradora-geral da República Raquel Dodge, em solenidade realizada em Brasília.

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Brumadinho foi vitimada pelo rompimento de barragem da mineradora Vale em 25 de janeiro de 2019

O observatório, que tem caráter permanente, promove a integração institucional, elabora estudos e propõe medidas de aperfeiçoamento do sistema nacional de Justiça, nas vias extrajudicial e judicial. O objetivo é enfrentar situações concretas de alta complexidade, grande impacto e elevada repercussão social, econômica e ambiental.

Já foram selecionados quatro casos a serem acompanhados, sendo três em Minas Gerais e um no Rio Grande do Sul: os rompimentos de barragens em Mariana e Brumadinho, em 2015 e 2019, respectivamente; a chacina de Unaí, em que quatro fiscais do trabalho foram assassinados durante uma fiscalização, em 2004; e o incêndio na Boate Kiss, em 2013.

Newgotiation: as cartas na mesa

Segundo o professor Yann Duzert, o primeiro passo é explicitar o conflito, alinhando os elementos discordantes, os interesses em jogo, as características de cada indivíduo ou grupo envolvido, e não descrever a situação de forma prolixa. “É um diagnóstico sintético, empregando técnicas cirúrgicas em precisão e objetividade, para deixar claro o que ocorreu, restabelecer valores, ajustar e equalizar as posturas”, explica.

O estudioso aponta quatro etapas no processo de negociação: a preparação, quando se coletam as informações para iniciar a discussão e se mapeiam os interesses; a criação de valor, quando se estabelecem os fatos, prioridades e objetivos; a distribuição de valor, quando se dividem as responsabilidades e se discutem as compensações; e o fechamento.  

De acordo com Duzert, passou o tempo das velhas práticas, que recorriam à chantagem, ao jogo de poder, à tática do “pegar ou largar”, a ameaças, humilhações, manipulações e blefes, às fake news, a seduções ou enganações.

O pesquisador cita como exemplos de estratégias ultrapassadas o uso de manuais como A Arte da Guerra, de Sun Tzu, e as táticas intimidatórias ou evasivas. Contrariamente, o novo modelo exige domínio emocional e fisiológico, boa-fé, tolerância para com o diferente, linguagem adequada, capacidade de discordar sem brigar.

Perfil do negociador

O professor salienta que o bom negociador, num certo sentido, é um camaleão, atento ao ambiente em que está e capaz de se adaptar conforme a necessidade. Ele deve ainda mostrar elegância moral, respeito, integridade, pois muito do sucesso da negociação decorre da preparação e da qualidade do diagnóstico.

“O negociador deve ser alguém maleável, inteligente, elegante, além de ter temperança, espírito de liderança, buscar a harmonia e a franqueza, ser paciente e observador, para antecipar soluções, identificar instrumentos para facilitar o diálogo e evitar o desequilíbrio”, lista.

Segundo Duzert, é fundamental identificar os dez elementos presentes numa negociação: o contexto externo, os interesses em conflito, as opções, o poder de cada agente, a cognição sobre o problema, as concessões de cada parte, a conformidade jurídica (o consenso sobre a legislação e sua interpretação), normas e padrões, o tempo disponível para se chegar ao resultado e os relacionamentos que se deseja preservar.

“É importante reconhecer os próprios sentimentos: raiva, medo e indignação podem ser bons, só não devem se manter no longo prazo. A etapa posterior é a reflexão, a compreensão dos próprios motivos e das razões alheias”, pondera.

Com informações do CNJ

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