“As meninas na literatura para crianças e jovens” foi o tema da palestra realizada nesta quarta-feira (24/11), por videoconferência, no ciclo de palestras mensais “Mulheres que inspiram pessoas e que superam os desafios da atualidade”. A ação é promovida pela Escola Judicial Desembargador Edésio Fernandes (Ejef) do Tribunal de Justiça de Minas Gerais.
A superintendente adjunta da Ejef, desembargadora Mariangela Meyer, representou o 2º vice-presidente do TJMG e superintendente da Escola Judicial, desembargador Tiago Pinto, na videoconferência. A palestra foi ministrada pela escritora mineira Stela Maris de Rezende. A debatedora foi a escritora e servidora aposentada do TJMG Rosana Mont’Alverne.
A literatura infantojuvenil requer uma parceria entre as linguagens verbal e visual, explicou a escritora Stela Maris. Para ela, não há que se falar em não gostar de ler porque “as pessoas leem o tempo todo, leem os gestos, os cabelos, as roupas, as imagens, as paisagens e também os livros”.
A escritora disse que gosta de inventar palavras e resgatar palavras antigas que caíram em desuso. “Eu sou apaixonada pelas palavras, tenho dó das palavras esquecidas, gosto de tirar o mofo delas, colocá-las ao sol para que ganhem vida novamente”, disse.
Emília, a “boneca falante” de Monteiro Lobato, é a primeira personagem feminina da literatura infantil brasileira que representa as meninas e as mulheres que lutam pela sua liberdade e exigem ser ouvidas, segundo a escritora. Para ela, Emília é a personificação das mulheres que são vistas como transgressoras porque lutam pelos seus direitos.
“A personagem Emília disse que, quando aprendeu a ler, ficou mais triste porque descobriu os problemas do mundo, mas também ficou mais feliz porque passou a aprender mais e a obter mais conhecimento”, disse Stela Maris. E foi nessa personagem que ela se inspirou para escrever seus livros, incluindo o enredo de A Mocinha do Mercado Central, vencedor do Prêmio Jabuti como Livro do Ano de Ficção em 2012 — obra que conta com uma personagem guerreira, vigorosa e questionadora.
No início da carreira, contudo, Stela enfrentou algumas dificuldades. Ela contou que a mineiridade presente no seu modo de escrever, usando palavras regionais, foi, a princípio, questionada pelas editoras, que queriam uma linguagem padrão.
Porém, teimosa como a Emília, ela insistiu e hoje é reconhecida como “a Guimarães Rosa da literatura infantojuvenil”, pela maneira como escreve. A debatedora Rosana Mont’Alverne exaltou as qualidades da personagem Emília que vê na escritora mineira: a insistência e o questionamento.
Outras personagens femininas fortes de histórias escritas foram Dorothy, heroína d´O Mágico de Oz, e Wendy, de Peter Pan, que viraram personagens de filmes, lembrou Stela Maris. Ela destacou também o protagonismo feminino nos livros infantojuvenis escritos por Isa Silveira Leal, entre outras escritoras brasileiras que focaram a mesma temática.
E por falar em personagens fortes, a desembargadora Mariangela Meyer citou o projeto “Caminhos e Contos: a ressocialização pela palavra”, implantado na unidade feminina de Belo Horizonte da Associação de Assistência e Proteção ao Condenado (Apac), por iniciativa do 2º vice-presidente do TJMG e superintendente da Ejef, desembargador Tiago Pinto. Para ela, as mulheres “conquistam os espaços pela sua competência”.
As aulas do projeto, ministradas por Rosana Mont’Alverne, que além de escritora é editora e contadora de histórias, levaram às mulheres privadas de liberdade a chance de escutar e contar histórias, ler e escrever. Muitas delas, por meio desse projeto, descobriram ou redescobriram o prazer pela leitura e a possibilidade de escrever e interpretar histórias.
Para finalizar, Stela Maris citou uma fala de uma das personagens do livro As Meninas, da escritora brasileira Lygia Fagundes Telles, que representa para ela o protagonismo das mulheres, seja na literatura seja em outras instâncias da vida: “Sempre fomos o que os homens falavam que nós éramos, agora somos nós que vamos dizer o que nós somos”.
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