Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

Morangos Silvestres

O professor Isak Borg, na noite anterior a sua ida à cidade de Lund, para receber uma comenda da universidade onde se formou, pelos seus cinquenta anos de exercício da medicina, tem um pesadelo: está em uma cidade deserta, quando aparece um carro fúnebre, que deixa cair um caixão. Ao olhá-lo, o protagonista vê que o cadáver no esquife é o dele. A partir daí, começa a refletir sobre o que tem sido a sua vida, sentindo culpa pela forma como a tem vivido, já com setenta e oito anos.

 

A viagem seria feita de avião, mas, na última hora, ele resolve fazê-la em seu próprio carro, na companhia da nora Marianne.

 

Esse percurso proporciona-lhe continuar com as reflexões sobre sua vida, conversando com a nora e com os jovens aos quais dá carona pelo caminho. Revive sua infância e as relações com os avós, os primos e os irmãos.

 

Através de Marianne, descobre que ele e o filho Evald têm os mesmos defeitos – são frios, distantes, egoístas, indiferentes - e mais: Marianne lhe diz que Evald não gosta dele. Na viagem, aproveita para visitar sua velha mãe, que, também, é fria e distante.

 

O filme pode ser definido como a jornada interior desse velho professor. Suas angústias, sofrimentos e remorsos. Ao final, ele se reconcilia com a vida, reconhecendo seus equívocos, tornando-se outra pessoa, como se vê no momento em que ele trata sua empregada de quarenta anos com carinho, como nunca fizera.

 

Convém lembrar que Bergman pensou o filme quando estava internado num hospital. A obra, como ele mesmo confessa, reflete a difícil relação que teve com seu pai. Como se sabe, foi turbulenta a convivência do cineasta com os seus, inclusive com as mulheres que passaram por sua vida.

 

Nenhum filme me toca tão profundamente e, embora o tenha visto inúmeras vezes, em cada uma delas descubro aspectos novos e comoventes. Possamos todos, diante de tanta beleza, reverenciar a genialidade de Bergman por essa verdadeira obra-prima.

 

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